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TRANSEUNTES

Criado em abril de 2012, o grupo de pesquisa"Transeuntes: Estudos sobre performance e Teatro performativo" foi formado a partir da necessidade de artistas em ampliar os estudos sobre as intervenções performáticas nas ruas. Em parceria entre Professores e Alunos do Curso de Teatro (COTEA) da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), o projeto consiste, entre outros pontos, em estudos teóricos sobre determinados autores que abordam o teatro nas ruas e em experimentações práticas que visam inserir o espectador transeunte na construção dos processos criativos, a partir das temáticas referentes às abordagens atuais. A pesquisa tem como principal objetivo investigar as propostas de estreitamento entre a cena contemporânea e o espectador transeunte nas ruas de São João Del-Rei, visando analisar a inserção do público como participante das ações performáticas, na busca de:

(...) Utilizar o ambiente urbano de maneira diferente das prescrições implícitas no projeto de quem o determinou; enfim, de dar-lhe [espectador-cidadão] a possibilidade de não assimilar, mas de reagir ativamente ao ambiente. (ARGAN, 1998, p. 219)

Os membros atuais do grupo Transeuntes são:

Professores - Ines Linke e Marcelo Rocco.

Alunos - Débora Trierweiler; Diego Souza; Diogo Rezende; Fernanda Junqueira; Gabriela Ferreira; Guilherme Soares; Halina Cordeiro; Henrique Chagas; Isabela Francisconi; Kauê Rocha; Nathan Marçal; Paula Fonseca; Rick Ribeiro; Tatiane Talita.

domingo, 2 de novembro de 2014

Resumo da atividade - IMERSÃO TEXTUAL - 28.10.2014 (segunda-feira) 13h00

Imersão Textual

            Os encontros oficiais do ““Transeuntes – Grupo de Estudos em Performance” acontecem sempre ás quintas-feiras. Ensaios extras, reuniões de produção e extraordinárias são marcadas a partir das demandas. Este foi o caso da discussão teórica ocorrida na última segunda-feira.                            
              O trabalho de pesquisa do grupo é pautado tanto nas experimentações práticas quanto nas leituras dos referenciais teóricos, e na relaçãos dessas duas frentes. E ultimamente identificou-se uma necessidade, na maioria dos integrantes, em levantar reflexões a partir das leituras condizentes com os interesses do grupo. Entre os textos escolhidos privilegiou-se àqueles que de algum modo dialogam com os pensamentos do grupo sobre a performance e a cena contemporânea e os que podem contribuir com os eixos temáticos deste ano. Os livros e artigos foram divididos entre os pesquisadores que deveriam ler e levantar questões a partir de suas leituras. As plataformas para as apresentações eram livres. Nas falas de vinte minutos podia-se criar apresentações tipo “Power Point” ou até mesmo apontar considerações baseando-se em uma escrita. Assim  o fez Ines Linke, que dividiu com Marcelo Rocco as impressões sobre o livro Invenção do Cotidiano de Michel de Certeau.
            Entre os apontamentos da professora estão o modo como o autor relativiza a noção de verdade oferecendo a ideia de pluralidade do real. E de que forma é possível inventar o cotidiano a partir do nosso fazer. Para Ines o historiador valoriza as manualidades, criatividade e inteligência das pessoas comuns reforçando a lógica da micro existência de onde pode-se questionar os saberes hierarquizados dando espaço para os saberes comuns e cotidianos que podem favorecer o que ele chama de arte sutil. A fala de Marcelo Rocco também questiona os lugares de poder.
            Tendo em base a segunda parte do livro, que já fora estudado para sua tese de mestrado, Marcelo apontou para as críticas do francês sobre como quem produzia passou apenas a consumir e lembrou que o autor considerava a televisão perigosa já que alimenta essa máxima. Lembrou, citando uma cena do filme Cronicamente Inviável de Sérgio Bianchi, que só é possível pensar os lugares de poder por que queremos estar no lugar daqueles que dominam. Rocco reforçou que para Michel o poder só existe porque existe também esta relação “entre” as partes envolvidas.
            Sabrina Mendes, Iolanda de Lourdes e Lucimélia Romão dividiram a leitura de A Sociedade do Espetáculo de Guy Debord. Esta última trouxe uma leitura de Patrice Pavis que ajudou a diferenciar o uso da palavra espetáculo no livro para seu uso no teatro. Iolanda comentou sobre como a sociedade criticada por Debord valoriza o “ter” em detrimento do “ser”. Para ele o que “aparece” é “bom” e o que é “bom” não “aparece”. Discorreu sobre a inacessibilidade dos modelos e padrões propostos e alertou sobre uma possível “proletarização” do mundo. Sabrina trouxe suas impressões sobre a realidade inexistente fora do espetáculo e mostrou vídeos que exemplificavam sua fala. Foram apontada nesta apresentação a necessidade de maior contextualização das leituras e exemplos.
            Júnio de Carvalho, Camélia Amada Guedez e Rick Ribeiro leram um capitulo de O Teatro Pós-dramático de Hans-Thies Lehmann que fala sobre a performance. A apresentação foi feita pelos dois primeiros já que Rick Ribeiro se atrasou. Eles falaram sobre como na performance valoriza-se o processo, as possibilidades de utilização do corpo e a presença. Falaram ainda sobre como o público dá significado ao que está vendo e como esta linguagem aborda uma estética integrativa de um vivente.
Eu, Luís Firmato, trouxe minhas impressões sobre a leitura de Renato Cohen em seu Performance como Linguagem: Criação de um Tempo-Espaço de Experimentação. Nele o intuito do autor “[...] é o de analisar a chamada ‘arte da performance’, estabelecendo suas relações com o teatro e outras artes (COHEN, 1989, p.25).” Para fazê-lo Cohen primeira estabelece uma lista de conceitos sobre a performance. Entre eles figuram o fato de ser uma expressão cênica, a relação entre espaço e tempo. Sua hibridez e por conter em si um atuante, um texto e o público. Faz um apanhado sobre as possíveis raízes da performance e discorre sobre a linguagem e suas características. Entre elas o fato de não se estruturar numa forma aristotélica, seu caráter multifragmentada, a ruptura com a representação o uso de espaços não habitualmente utilizáveis e a crítica á arte instituída. Reforcei a necessidade de lermos o texto com grande atenção já que algumas considerações podem ser datadas. Ines apontou sobre o risco das definições e rotulações construídas no texto até em forma de tabelas, porém como bem disse Marcelo Rocco fatos que não tiram a importância da obra, primeiro texto a traçar o caminho da performance no Brasil.
Sebastian Júnior e Pedro Mendonça leram textos diferentes de Josette Ferrál. O primeiro falou sobre o artigo Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. Ele foi alertado sobre o perigo de estabelecer uma relação entre a “quebra” Brechtiana e a performance já que nesta última não existe quebra pela ausência de um discurso aristotélico. Falou-se sobre a importância do processo e de que modo ele reflete no produto. Fomos convidados pela professora Ines em seus comentários a não racionalizar tudo quando em processo de criação.
Pedro traduziu do inglês um texto da autora publicado no livro Archaeologies of Presence – Art, Performance and the Persistence of Being  ainda não lançado no país. Nele a autora discorre sobre as diferentes instâncias da presença. Pedro utilizou exemplos com um integrante para falar da presença que para a autora vai além da puramente física.
Matheus Correa trouxe alguns apontamentos sobre o a Encenação Performativa de Antônio Araújo.
Logo após as apresentações aconteceu uma discussão e foram feitos comentários sobre os textos e as interpretações do pesquisadores. Marcelo reforçou a necessidade de lermos todos os textos e Ines sobre mantermos o modelo de experimentações que antecedem a leitura teórica. Foi unânime o reconhecimento dos benefícios da imersão e acordou-se que ela deve se tornar uma prática pelo menos bimestral.

Luís Lebre
Referência Bibliográficas
CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes,1994.
COHEN, Renato. Performance como linguagem: criação de um tempo-espaço de experimentação. São Paulo: Editora Perspectiva, 1989.
DEBORD, Guy. A Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro, Contraponto, 1997.
FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. In: Sala Preta Revista de Artes Cênicas, n. 8, ECA/USP, p. 197-209. São Paulo: PPG Artes Cênicas – ECA/USP, 2008.
FÉRAL, Josette. Chapter 2: How To Define Presence Effects GIANNACHI, Gabriella, Org. Archaeologies of Presence – Art, Performance and the Persistence of Being. Routledge, 2012.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. Tradução de Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac Naify, 2007. 440 p.
            
      
            

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