Resumo da atividade
23.10.2014
(quinta-feira) 15h00
Proposta Matheus Correa
Praça Bom Senhor Jesus do Matosinhos, Bairro Matosinhos, São João
del-Rei, MG.
A
reunião desta semana continuou obedecendo à lógica de propostas de exercícios
experimentais auxiliares na construção de uma dramaturgia para a nova encenação
performativa do “Transeuntes – Grupo de Estudos em Performance” provisoriamente
chamada de “Deus é Fiel”. Todos os pesquisadores do grupo farão propostas - a
partir de seus interesses e desejos individuais - que deverão dialogar com os
eixos temáticos que norteiam os trabalhos neste ano de 2014. Entre eles estão à discussão acerca da
construção do “ser” na forma de “corpo de consumo”, a espetacularização da vida
seguindo os preceitos de Debord¹ (1999), as relações a partir da “mercadoria” e
as tensões existentes entre consumo e consumismo.
Se
no último espetáculo a crítica se deu sobre a banalização da violência, suas
relações de consumo e sensacionalismo; e o pensamento sobre a morte como um
souvenir da sociedade contemporânea, desta vez estas relações serão vistas sob o
recorte das instituições religiosas. Nesta pesquisa atual o grupo se debruça
sobre o entendimento de alguns mecanismos utilizados por diferentes
instituições judaico-cristã-islâmicas para angariar lucros e fomentar lógicas consumistas.
Sendo assim, respeitando uma ordem anteriormente
estabelecida, cada pesquisador deve apresentar suas propostas de exercícios e
experimentações de cenas, performances, instalações etc. Após cada experiência –
devido ao grande número de proponentes podem acontecer diferentes propostas em
um mesmo dia, caso dessa semana – são feitas discussões entre os integrantes do
grupo. Nelas são feitas análises e apontamentos sobre os potenciais,
fragilidades, e o caráter dialógico da proposta com os eixos temáticos e interesses
da encenação performativa.
Matheus
Corrêa, o proponente da semana passada junto com Junio de Carvalho, refez uma
de suas propostas. Mas, diferente da última semana em que a ação aconteceu no centro
histórico (Praça do Carmo, ao lado da Igreja da Nossa Senhora do Carmo) desta
vez o local escolhido foi a Praça do Bom Senhor Jesus do Matosinhos. A ideia é
que consigamos diversificar os locais de ação como forma de possibilitar a
experiência com públicos e espacialidades distintas. A escolha também dialoga
com o caráter descentralizador que permeia as discussões tanto do grupo
Transeuntes quanto do Urbanidades- Intervenções.
A
necessidade de refazermos a ação se deu por dois motivos principais. Seu potencial
e algumas questões levantadas pelo grupo. A ação basicamente consistia em
pessoas cujas vestimentas correspondiam com as roupas ditadas socialmente para
cada sexo biológico. Todos eles, ao todo quatro, colocaram-se próximos ao
chafariz da praça, e tinham “placas” de papel A4 que caracterizavam um ou mais
pecados morais condenáveis pelos cristãos ou não só. Rick Ribeiro trazia as
palavras “bicha” e “drogado”; Sabrina Mendes “suicida”; Marcelo Rocco (bate em
mulher e “punheteiro”) e Iolanda de Lourdes “puta e ela abortou”. Matheus Way
vestido com roupas e acessórios coloridos era aquele que convidava os passantes
para atirarem pedras cenográficas (de tecido) nos pecadores. O jogo, segundo
ele, além de ajudar os alvos à redimirem seus pecados dava ao lançador assertivo
de três alvos a premiação de uma gota do sangue de Jesus. A ação não teve
grande quórum, mas mostrou-se muito potente. A ideia de incluir a performance do
espectador na cena pode auxiliar na reflexão sobre o que é mostrado. Mas foi
neste quesito que surgiram as questões mais complexas. Uma parte do grupo
acreditou que a utilização de condutas julgáveis pelas regras e dogmas da
igreja paralelas á algumas julgadas pela lei e por grande parte das pessoas
(como o caso do “bate em mulher”) pode ser perigosa. Colocar um homossexual e
um agressor de mulheres na mesma plataforma de julgamento pode favorecer
interpretações erradas, caso isso não seja escolhido. Sendo assim a proposta
foi refeita, e as mensagens editadas. Optou-se por escolher apenas uma palavra
por pessoa. Camelia Amada Guedes ficou com “Não pagou o dízimo”; Marcelo Rocco
trazia os dizeres “Levantou falso testemunho”; “Pederasta” e “Adúltera” eram as
palavras de Junio de Carvalho e Lucimélia Romão, respectivamente; Iolanda
trazia a frase “ela abortou”; Pedro Mendonça “Ele adora outros deuses”; e por
fim Bernadete Macinelli “pecou contra a castidade”. (imagens 1-6)
Os
alvos cresceram em número, mas não ocorreu o mesmo com o público. Descobrimos
que a ação refeita poderia ter sido melhor aproveitada caso fosse pensado
melhor a pré-produção. Escrever as placas anteriormente com pesquisa de frases
bíblicas e a escolha de um local com maior circulação de pessoas, o que poderia
ter auxiliado tanto nas intenções da ação quanto no envolvimento dos passantes.
Alguns integrantes apontaram para Luís Lebre outras possibilidades de
intervenções e abordagens. Ele teve que substituir o Matheus Way que faltou no
dia por problemas pessoais. Também o fez Sabrina Mendes pelo mesmo motivo. A discussão
foi adiada por conta do segundo exercício proposto por Ines Linke no CTan.
Proposta de Ines Linke
Campus Tancredo Neves - UFSJ
-Avenida Visconde do Rio Preto,S/N - Colônia do Bengo São João del Rei – MG
A
ação sugerida pela professora Ines Linke foi chamada de “Bloody Mary”. Foram
pedidos roupas, acessórios, objetos, alimentos e bebidas de cor vermelha para a
ação, foi também preparada uma tinta artesanal para pintar alguns corpos. O
exercício experimental surgiu de dois momentos. Um envolvendo o grupo
Urbanidades-Intervenções - em uma deriva o graduando Pedro Mendonça interessado
nas cores das casas foi provocado a testar em sua própria pele a receita de uma
tinta verde artesanal - e outro de uma ideia da professora em trabalhar com
altares.
A
proposta inicial era fazer com que os integrantes do grupo compusessem imagens
de uma mesa em ceia com todos os materiais e alimentos vermelhos e que formássemos
uma imagem inspirados na Santa Ceia de Leonardo Da Vinci. (imagem 7)
Aos
componentes foi sugerido também um brinde. Ines indicou que usássemos
referenciais bíblicos ou que construíssemos corporeidades e falas que
remetessem aos sentimentos e situação vivida pela figura de Jesus Cristo e seus
apóstolos na última ceia.
A
experiência mostrou-se muito potente, apenas faltaram os referenciais diretos e
o exercício revelou pouco conhecimento sobre as passagens bíblicas que narram o
acontecimento. Tais questões devem ser mais bem desenvolvidas nos próximos encontros.
A discussão que é realizada após todas
as propostas não pôde acontecer devido ao horário avançado.
Luís Lebre
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS E IMAGÉTICAS
DEBORD,
Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
As fotos são de Matheus Correa.
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