Terra Comunal - Marina Abramović
(texto retirado de http://terracomunal.sescsp.org.br/marina-abramovic/marina-abramovic)
A exposição retrospectiva Terra
Comunal - Marina Abramović apresenta um conjunto de obras de Marina Abramović,
de instalações e objetos a vídeos e registros documentais. Concentrando-se em
uma série de obras que promovem a galeria como espaço para encontros possíveis,
a exposição toma como premissa a relação entre as proposições artísticas e a
recepção pelo público. As obras apresentadas foram marcos fundamentais na
carreira de Abramović e intrínsecas à criação do Marina Abramović Institute –
MAI. Ao longo da última década, Marina Abramović apresentou três performances
seminais: The House with the Ocean View [A Casa com Vis- ta para o Mar] (2002),
The Artist Is Present [A Artista Está Presente] (2010) e 512 Hours [512 Horas]
(2014). Embora a artista tenha considerado o público como um corpo ativo desde
o início da década de 1970, essas obras foram catalisadoras de uma virada na
prática artística de Abramović: uma mudança na posição do público dentro de seu
trabalho. Durante The House with the Ocean View, um contato visual direto entre
performer e espectador foi estabelecido; em The Artist Is Present, o público
foi posicionado sem hierarquia em relação à artista; e, mais tarde, em 512
Hours, o público tornou-se literalmente o corpo ativo da performance.
Os Transitory Objects for Human
Use [Objetos Transitórios para Uso Humano] foram criados entre os anos 1990 e o
final dos anos 2000. Esses objetos apresentam a introdução do processo dentro
da prática de Marina Abramović, no qual ela convida o público a interagir com
os objetos de acordo com suas instruções. Consequentemente, cada participante
se conecta com a proposta da artista por meio de sua própria experiência
pessoal. Isto requer que o público se mova num ritmo diferente, criando um
distanciamento em relação à experiência usual dos espaços de arte ou mesmo da
vida cotidiana. Leva tempo para permitir-se sentir a energia do espaço. Esses
objetos, em sua maioria, são feitos inteiramente de – ou contêm – cristais,
irradiadores pontuais de energia.
Um conjunto de vídeos apresenta o
registro de performances de Abramović e disponibiliza um raro material de
arquivo. Marina Abramović sempre gravou suas performances com o intuito de
democratizar sua obra e tornar esses eventos efêmeros acessíveis ao público.
Buscando uma maneira de mostrar fielmente os efeitos da duração numa
performance, a artista desenvolveu um exercício constante de tentativa e erro
na busca por proporcionar uma nova experiência performática através do vídeo.
Essa exposição apresenta Video
Portrait Gallery [Galeria de Retratos em Vídeo], uma instalação de vídeo com
catorze monitores monocanal e uma seleção de vídeos históricos que incluem suas
primeiras obras da década de 1970, uma série de colaborações com seu parceiro
Ulay Lay- siepen nos anos 1980, com destaque para The Lovers: Great Wall Walk
[Os Amantes: Caminhada na Grande Muralha], e uma obra solo posterior. Uma
prática artística que é aberta à variação, ao acaso e à diversidade vem sendo
construída progressivamente por Abramović. A tentativa de viver o momento
presente, o aqui-agora, é um foco claro que perpassa todas as obras
apresentadas na exposição.
O grupo Transeuntes foi até o Sesc conferir e expuseram sua opinião à
respeito da Mostra Comunal:
MARCELO ROCCO:
Marina Abramovic, tornou-se
símbolo da performance no que concerne aos limites do corpo, à exaustão, à
dilatação do tempo. Em tempos de uma sociedade de consumo em que os
compartilhamentos entre as pessoas são feitos pelas aquisições de compra ou
pelo poder de venda, as experimentações artísticas para além dos produtos
pré-fabricados, geram outras possibilidades de identificações dos cidadãos com
seus locais de origem, de passagem e de vivência. Isto salienta dispositivos de
mudança e de renovação de olhares sobre a urbe (BAUMAN, 2001).
Neste sentido, e entre outras
opções, a experiência passa a ser vista como uma rede simbólica de feituras que
andam além dos hábitos cotidianos, cujas representações de uso são feitas pelos
compartilhadores de uma vivência, e não por uma demanda pensada anteriormente
às suas vontades, sem critérios claramente democráticos.
Desse modo, o tempo dilatado em uma
cidade como São Paulo cria um sinal de escuta, uma parada na rotina cotidiana
para um olhar interno, sincero, simples. Uma experiência que está se esgotando,
uma vez que até os momentos de lazer são pasteurizados, uma vez que o silêncio
está associado ao sono, ao leito, às reproduções televisivas.
A experiência em grupo, vista no
tempo dilatado e no tempo presente, possibilita a formação de outros olhares
sobre as coisas compartilhadas, articulando processos de feitura, além do viés
de consumidores. Produzir experiências nos transforma em coprodutores de uma
cultura, de maneira comunal, ou des-comunal, quando nos referimos às relações
superficiais que se assustam com estes novos olhares.
Instaurar a presença como
materialidade da obra, substituindo outras materialidades, tais como um quadro,
é um exemplo ferrenho que a performer trás, pois ela valoriza mais a
presentificação do ator que a narrativa tradicionalesca. Assim, quem quiser um
desnudamento, uma troca de presenças, um encontro em silêncio, verá o artista
presente, no sentido grotowskiano de desnudamento e exaustão.
Porém, muitos buscaram a
performer como um sentido de status cotidiano. Colocaram-na no lugar de uma pop
star (não que ela não pareça gostar), mas retiraram a sua essência de encontro
para uma possibilidade de ver as excentricidades. Isto ficava claro durante a
palestra, em que o cunho das perguntas do público era pautado em sua vida
pessoal: “você tem medo de quê?”, “O que é a moda para você”?, “Mulher ou
mito”? “Dá um dica, vai”?, “e a Lady Gaga?”
Estas sobreposições de perguntas
não parecem valorizar 40 anos de trabalho, nem revelar as camadas de sua
potência criativa, mas mostrar se por trás daquela artista, há um ser humano,
quase um “mapa das estrelas hollywoodianas”, numa lógica de “calçada da fama”,
que não parece ser o lugar.
E a performance? E o limite? Isto
não parecia definitivamente, interessar. O que mostra algo maior, não apenas
que o sentido da pergunta se modificou, mas que o interesse do espectador
também. O que revela o poder gigantesco da massificação.
Em uma entrevista, Elis Regina
disse (na década de 70) que se via cantarolando músicas que em outrora nunca
faria, músicas sendo levadas a sério, quando na verdade, deveriam ser ouvidas
apenas no carnaval, como uma brincadeira.
Hoje vemos que isto ampliou, e
muito. E esta “brincadeira” está cada vez mais sendo levada a sério, e as
perguntas que a Xuxa fazia aos seus convidados, tais como “você faz xixi
agachada no ralinho do banheiro?”, está cada vez mais democratizada, expandida,
hoje ao alcance de todos, porque não há nada mais democrático que a
mediocridade televisiva sendo levada a todos os sabores e gostos para o
restante da população. O artista precisa ter status de celebridade, caso
contrário, não será levado a sério.
DIEGO SOUZA:
A mostra Terra Comunal, para mim, foi de
grande importância. A partir de algumas pesquisas sobre Marina Abramovic, pude
conhecer e entender mais sobre seus trabalhos e a visita à mostra, fez com que
eu pudesse aprofundar nesse universo Abramovic.
Participar de seu método foi, sem
dúvidas, uma experiência única, onde pude concentrar-me em mim mesmo, sem
prestar atenção em nada além do meu interior. O mais engraçado é que a duração
do método foi de duas horas e, no início, achei que ficaria entediado e não
conseguiria ficar até o final, porém, ao me entregar aos “exercícios” propostos
esse tempo passou voando.
Um dos tópicos mais importantes a
ser observado é como o artista e o público fazem parte da obra, sendo partes
fundamentais da mesma.
IOLANDA DE LOURDES:
Iolanda De Lourdes Eu achei
produtiva nossa ida até São Paulo pra ver a Mostra COMUNUAL por que Marina
Abramovich é uma figura emblemática na performance. Seus videos já havia visto
pela internet ou mesmo em outra exposição. O método que acho que não
corrresponde a um método mas a uma perfomance coletiva, me fez pensar por dois
lados: um deles e que conseguimos realmente para a vida rápida coditiana e
durante duas horas gastamos o tempo fazendo 'nada'. O que atualmente isso se torna
praticamente impossivel tendo em vista que a produção/ação está ligada ao nosso
desempenho de vida. O segundoponto é que já que a Marina se preocupa tanto com
o mistisismo de sua performance, não vi um certo cuidado com seus cristais
incrustados nos objetos do método. Minimamente, alguém que concenhe e trabalha
com cristais, sabe que eles precisam de um cuidado especial ao passar de pessoa
para pessoa. Pois as energias no mesmo se muta e se limita de acordo com o
contato que tem com pessoas e natureza. Quanto à palestra que ela deu, ficou
muito a desejar pois mostrou muitos videos e não aprofundou em nenhum deles. A
maioria das perguntas do publico foram extremamente pessoais, direcionadas à
vida pessoal da artista deixando o tema 'perfomance' a desejar. A conclusão que
ficou é que Marina Abramovich se limitou à sua 'grande presença' e apesar de
realmente suas perfomances terem sido um marco na historia da arte, ela foi
absorvida pela mídia e pelos valores padrões sociais. Acho que perdeu a força
que tinha quando jovem. Agora está mais interessada em seu próprio nome do que
em sua arte.
EDDER CARDOSO:
Já conhecia algumas performances da Marina
Abramovic através de vídeos e quando cheguei ao SESC não tinha ainda percebido
que se tratava da mesma artista. E até então ainda pairava uma nuvem de intensa
reflexão sobre o objetivo da sua arte, mas sem conseguir chegar em nenhuma
conclusão.
Ao chegar ao momento do Método
Abramovic, me veio ainda maior dúvida sobre o papel da arte, já que o que
estávamos fazendo era fechar os olhos, nos aproximar de cristais e respirar.
Por momentos me pareceu que aquilo se tratava de algum método terapêutico ou de
preparação para alguma ideia de produção artística. Enfim notei que em todo
momento a minha grande dúvida era a de como encarar a ideia de arte, o que é
uma discussão que já passei há muito tempo e tive que passar de novo agora
sobre novas perspectivas.
Em algum vídeo em exposição no
SESC a artista falava uma frase como: às vezes o mais difícil de enxergar é o
nada. E com isso eu comecei a realizar que minha maneira de olhar poderia ser
feita com menos expectativa e menor reflexão.
Mas ao perceber o exercício de
arte como algo no campo do real tive que aceitar que não apenas as perturbações
psicológicas poderiam ser usadas em um experimento, mas também as físicas. O
confronto do cênico com o real parece abrir possibilidades para uma nova
compreensão, mas ainda pouco hábil para mim. Não me escapa a ideia ainda de que
outras pessoas ao tentarem produzir algo nesse campo façam coisas muito muito
naif.
Ao chegar o momento da palestra
eu pré-julguei o ambiente e as pessoas e me senti super inferior em relação à
compreensão artística me comparando as pessoas ao redor, ainda mais sobre as
visuais ou performáticas, já que gastei grande parte dos meus estudos
artísticos em assuntos de música. Com o tempo percebi que havia uma aura de
endeusamento do público para com a artista e de pessoas que forçavam demonstrar
compreensão maior do que se havia de existir, e me veio um sentimento de
incômodo que foi muito, mas muito acentuado ao ver a plateia usando o tempo de
fazer perguntas para se informar sobre a vida da artista, e não sobre o seu
trabalho.
A ideia ou pelo menos a intenção
de utilizar a arte tida como performance faz parte das minhas ambições hoje
como pesquisador e executor de arte, e meu olhar sobre execuções artísticas
agora tem uma abrangência muito maior o que me vai possibilitar agir com maior
destreza na apresentação de conteúdos e alcance dos seus resultados.
SABRINA MENDES:
1.MÉTODO ABRAMOVIC
Quanto ao método da Abramovic,
talvez seja interessante trabalharmos este “tempo mais lento” em alguma cena do
Deus é fiel (sugiro o momento em que carregam o deus morto). Isso pode chamar a
atenção do público devido a mudança brusca de um tempo acelerado para um tempo
lento, além de ser uma boa prática aos atores que dificilmente trabalham a ação
desacelerada. Acredito que em cena os extremos e as suas nuances tendem a
enriquecer o trabalho (na voz-corpo, na iluminação, no cenário, no figurino
etc).
FILIPI DIAZ:
Não sei dizer muita coisa pois
não conheço o trabalho da Marina Abramović, mas gostei do que foi exposto, me
impressionou a concentração exigida nas performances, a confiança dos
trabalhos, o exagero físico algumas vezes apresentado (quase sempre), a
presença da artista, sua entrega, enfim muitas coisas foram interessantes.
Também há algumas coisas que me intrigam, que é sobre o método, não falo da sua
originalidade pois não sou capaz de julgar isso, mas da sua aplicação como
arte. As vezes encontrava sentido em algumas coisas e outras não... mas talvez
possa ser esse o objetivo? Participei com muita vontade do método e achei super
difícil me desligar, não sou do tipo; fica quieto, mas o exercício provocou
sensações que ainda não haviam sido despertadas no meu corpo e nem na minha
mente e isso me chamou muita a atenção. Através desse desencadear creio que
posso explorar mais alguns sentidos do meu corpo para desenvolver um trabalho
artístico mais crescente e desenvolver técnicas para um trabalho cênico. Foi
uma boa experiência!
DIOGO REZENDE:
Minha experiência com a Mostra Descomunal foi
bem interessante! Também nunca havia ouvido falar da Marina antes, mas achei
muito interessante o seu trabalho quando fui dar umas pesquisadas, e fiquei
satisfeito com a palestra dela e dos assuntos que ela abordou (que ELA abordou,
não os da maioria daquelas perguntas). O Método também achei interessante, mas
confesso que, tirando eu quase ter dormido na hora de deitar, não senti nada de
muito diferente com aqueles cristais.
TATIANE DE JESUS:
Achei legal a mostra, não
conhecia nada da Marina, achei bacana ela usar quase sempre imagens fortes e
uma temática ligada ao sexo e aos limites do corpo, apesar de eu achar que
algumas coisas não tenham sentido algum. Em relação ao Método, achei legal, que
todos tivessem que se sujeitar a 30 minutos de pausa em cada espaço diferente,
foi bom pelo tempo mesmo, porque estamos numa década onde ninguém para por um
longo tempo, mas não vi sentindo nos cristais, e o que senti apenas foi uma
paz, mas creio que estava ligado ao fone de ouvido, não pelo efeito dos
cristais.
HALINA CORDEIRO:
Achei nossa viagem bastante
produtiva! Antes não entendia o trabalho da Abramovic, mas poder ver
pessoalmente pelo menos uma parte de tudo o que ela já fez foi esclarecedor.
Algumas coisas ainda não fazem muito sentido pra mim, como o uso dos cristais e
outros objetos... Mas o Método foi importante para a percepção do corpo no
espaço. Foi também uma boa experiência porque alguns, como eu, acabaram de
entrar no grupo e já tivemos uma oportunidade como essa. Acredito que tenha
sido bem positivo para todos!
KAUÊ ROCHA:
Tive meu primeiro contato com
Marina Abramovic quando foi avisada a viagem para a Mostra. Realmente nunca
tinha ouvido falar dela, e foi então que pesquisei e conheci mais sobre as
performances. A viagem a Sampa e a participação no Método Abramovic só me
fizeram admirar mais o trabalho dela. Ver fotos e vídeos na Internet
despertavam curiosidade, mas estar num ambiente totalmente dedicado à ela e
participar de algo elaborado por ela criaram novas sensações. Para mim, foi uma
grande experiência. Conheci o trabalho da Marina, descobri mais sobre a
essência da performance e entendi mais o grupo.
FERNANDA JUNQUEIRA:
Conheci o trabalho da Marina um pouco antes de
viajar. Pesquisei um pouco sobre as performances dela também e me interessei
bastante. Achei a mostra muito interessante. Porém acabei dando mais atenção às
performances antigas que estavam em vídeo do que às que estavam sendo
apresentadas no local, por achá-las mais intrigantes. Quanto ao método, não
aproveitei muito bem por falta desse controle da mente sobre o corpo, mas achei
muito interessante e tive várias dúvidas também como, por exemplo, a questão
dos cristais. No mais, achei que foi uma experiência muito produtiva.