Bem Vindo!

TRANSEUNTES

Criado em abril de 2012, o grupo de pesquisa"Transeuntes: Estudos sobre performance e Teatro performativo" foi formado a partir da necessidade de artistas em ampliar os estudos sobre as intervenções performáticas nas ruas. Em parceria entre Professores e Alunos do Curso de Teatro (COTEA) da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), o projeto consiste, entre outros pontos, em estudos teóricos sobre determinados autores que abordam o teatro nas ruas e em experimentações práticas que visam inserir o espectador transeunte na construção dos processos criativos, a partir das temáticas referentes às abordagens atuais. A pesquisa tem como principal objetivo investigar as propostas de estreitamento entre a cena contemporânea e o espectador transeunte nas ruas de São João Del-Rei, visando analisar a inserção do público como participante das ações performáticas, na busca de:

(...) Utilizar o ambiente urbano de maneira diferente das prescrições implícitas no projeto de quem o determinou; enfim, de dar-lhe [espectador-cidadão] a possibilidade de não assimilar, mas de reagir ativamente ao ambiente. (ARGAN, 1998, p. 219)

Os membros atuais do grupo Transeuntes são:

Professores - Ines Linke e Marcelo Rocco.

Alunos - Débora Trierweiler; Diego Souza; Diogo Rezende; Fernanda Junqueira; Gabriela Ferreira; Guilherme Soares; Halina Cordeiro; Henrique Chagas; Isabela Francisconi; Kauê Rocha; Nathan Marçal; Paula Fonseca; Rick Ribeiro; Tatiane Talita.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013


                                              FRETAR A CIDADE EM “FESTA”

A ação “A FESTA” surgiu de uma tentativa de trabalhar o “guarda-chuva” consumo, presente em maior ou menor medida, mas não de diferente importância, nas pesquisas pessoais de todos os Transeuntes.
Falou-se de re-significar o espaço, transformar a cidade de São João del-Rei em uma grande mansão, lugar de uma festa onde muitos foram convidados. Via redes sociais ou no momento mesmo da ação.
            Inicialmente quis cruzar minha pesquisa pessoal sobre gênero e sexualidade travestindo-me. Porém as explicações nunca são tão obvias e tive dificuldades em criar um argumento capaz de convencer-me que não haveria troca de sentido, ou melhor dizendo, que não mudaria o foco da ação. Acredito, e aceito discordâncias, que a aceitação dos homossexuais se dá em alguns momentos em função de seu poder de consumo. Um grupo sem filhos, alimentado por imagens de homens perfeitos na mídia e na moda, e muitas vezes bem informados serve de prato cheio para uma lógica capitalista de consumo desenfreado. Basta ver o comércio paralelo as grandes paradas gays no país e no mundo. Faz-se bom lembrar que não estou criticando tais manifestações e sim refletindo sobre como são usadas para apoiar mercados que, como por mágica, passaram a ver nos homossexuais ótimos clientes. Uma vez (?) homossexual tenho necessidade de refletir sobre minha condição, sem esquecer, no entanto que sou antes cidadão, um ser pensante. Certa vez minha terapeuta indagou-me sobre o porquê me cobrava tanto em acertar. Respondi, pretensiosamente, como se pudesse fazê-lo por todo os iguais na orientação sexual, que nós homossexuais temos que fazer tudo perfeitamente para sermos aceitos na sociedade. Ela me perguntou se eu queria acertar por que era uma pessoa desejosa de que as coisas dessem certo ou só por era homossexual? Talvez você leitor pense o que tem isso a ver com a ação citada no título, eu responderia: muito. É que em minha proposta inicial queria tatear sobre até que ponto a imagem de mulher que os travestis idealizam e efetivamente criam é forjada pela mídia. Ou ancorado em um argumento não-preconceituoso, politicamente correto, vou defender que travestis não existem os que são consumistas? Se forem vítimas do(s) sistema(s) talvez devessem sabê-los. Não que minha indumentária e atitudes os salvariam da areia movediça, mas eu quero entender para evitar acusações preconceituosas. Fica a ideia amadurecendo. Momentos oportunos existiram ou os criarei. Fui com as ideias, mas a roupa foi outra.
   Vesti-me pensando em um emergente, novo rico, que, por suas excentricidades falasse por ele mesmo. Fomos, mas a rua recebe-nos com força. Iniciamos com escritos no chão. Tentamos re-significar os espaços, a chuva deixou que ocorresse em alguns instantes: os acontecimentos menos. É que um turbilhão de informações foram se achegando. No desespero urgente de fazer alguma coisa surgiram idéias potentes e por isso reaproveitáveis. Algumas nem tanto.
Vi muita potência nas improvisações de Érika Camila, escolhida para ser dona da mansão-cidade. Não me desculpo por ter provocado ações e movimentos que a deixaram em apuros, já que se saiu muito bem. Agradou-me os escritos que tentamos deixar em cada novo espaço. Usar a cidade subvertendo seus usos, ditos oficiais, é sedutor.
Talvez tenham sido negativos os momentos em que o grupo parecia em uma festa gay (gritos e palmas não mascaravam a falta de ação?), o desconforto dos convidados que souberam da ação “on line”, o que revelou que diferentes ideias de festa não se fundiram sempre, e a perda do foco em criticar o consumismo.  
Para o primeiro problema sugiro que façamos exercícios e propostas que nos instrumentalize para a rua. Improvisação é intelecto puro. Nada pode surgir do que não existe. Isso por mais fantásticas e rápidas que sejam as soluções surgidas em problemas da hora.
No segundo que tenhamos um núcleo ativo. Aqueles que frequentam os encontros semanais precisam de assiduidade para contatar com o que sugeri nas linhas acima. Assim acredito que teríamos ferramentas para incluir os que estivessem inseguros, isso tudo se for essa a proposta.
Criticar o consumismo foi à principal barreira. Concordo com os que sugeriram que devemos intensificar na criação das imagens e ações.
Comigo ficaram guardadas imagens maravilhosas e a impressão de que só experimentando se pode saber o sabor das coisas. Neste caso o sabor da rua é de vinho barato, água de chuva, olhares raivosos, sorrisos fúteis e muitas sugestões.

Luís Firmato.

           





segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013



Sobre o procedimento “A FESTA”,
A ação decorreu em meio à previsão de chuva e à desorganização no trânsito.
Aos poucos os convidados foram chegando, estabelecendo o primeiro problema: “de quem seria a festa?” Elegemos a socialite Erika Camila pelo seu vestido longo. A Anfitriã tomou para si toda a tarefa de abrir a sua mansão, no caso a rua, os espaços públicos, tudo que era seu, tudo que deveria ser nosso, mas acaba sendo apenas um lugar de passagem. Usamos os espaços diariamente? Ou temos o tecido urbano apenas como um corre corre diário?
 Quando eu vi a fonte, percebi que era mais um lugar de contemplação que de uso (mau uso), pois a fonte, o coreto são utilizados apenas para a contemplação passiva do espectador e nos festivais do ano, o coreto é sinônimo de um quadro renascentista, pois podemos olhar, mas será que podemos tocar??
 Não, até que pode ser nos comícios, festas ,carnaval, mas diariamente, não somos convidados a usar os espaços.
Começa a chuva. Chuva não convidada, mas acoplada aos procedimentos. Tudo foi absorvido. O transeunte não entendia bem o que estava acontecendo, nem nós. Apenas seguíamos o fluxo, e como local de ação, deixávamos ir. Percebi que os cartazes não fizeram tanto efeito quanto os chup chups de gesso, graças à santa Ines de Calcutá.
Os escritos no chão iam dando sentido à ressignificação do espaço: o posto virou SAUNA, a rodoviária CASSINO:
“rodoviária- uma monumento erguido em homenagem às pessoas que não têm carro” (pobres mesmo),
bendita socialite Erika que, em meio ao seu trabalho na ONG que ajuda as adolescentes com acne, reservou seu tempo para conhecer onde fica estes seres folclóricos chamados POVÃO. Percebo ai que os escritos no chão são potentes, mas poucas pessoas escrevem nele, acredito que a ação ficaria mais forte deixando os rastros (como sugere Ines) no chão, os rastros da nossa trajetória.
É realizado o LEILÃO, ponto forte do jogo cênico: leiloamos taças, bolsas, e posteriormente, a empregada, que foi vendida por um salário mínimo, uma cesta básica e um chocotone no natal. Bendito Luis, sempre agradando aos pobres, acredito que tenha copiado esta ideia do MALUF quando dava o VALE LEITE EM PÓ nas escolas para as crianças que não faltassem às aulas, e até o VALE GÁS.
Como diria Bruno Siqueira, continuamos o SAFARI para conhecermos onde os pobres moram e o que fazem, seres exóticos para nós: NUNCA ANDEI NUM ONIBUS, disse Luis. Ele achou emocionante, pois treme mais que montanha russa. Outro ponto forte: as pessoas que desciam se transformavam em celebridades, recebidas com fotos por parte dos fotógrafos, faltaram os flashs para aumentar esta sensação de CELEBRIDADE INSTANTANEA.
Fomos para a PONTE DOS DESEJOS:       “de hoje em diante eu quero boas noticias, só me conte boas noticias” (frase citada por mim, extraída da nossa filosofa XUXA MENEGUEL, que prefere ouvir boas novas que a realidade, afinal, ela pode, ela (f) ode.)
Fomos até a BOATE (PONTO FRIO) E PERCEBEMOS QUE AO INVES DE CRITICAR O LUGAR estávamos fazendo propaganda gratuita, ai que medo: (Cuma?! Diria outro filosofo Didi Mocó, na época dos Trapalhões, quando os outros o ajudavam a ser engraçado).
Finalizamos com um brinde, molhados, lavados, satisfeitos, com muitos erros e materiais no bolso!