Bem Vindo!

TRANSEUNTES

Criado em abril de 2012, o grupo de pesquisa"Transeuntes: Estudos sobre performance e Teatro performativo" foi formado a partir da necessidade de artistas em ampliar os estudos sobre as intervenções performáticas nas ruas. Em parceria entre Professores e Alunos do Curso de Teatro (COTEA) da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), o projeto consiste, entre outros pontos, em estudos teóricos sobre determinados autores que abordam o teatro nas ruas e em experimentações práticas que visam inserir o espectador transeunte na construção dos processos criativos, a partir das temáticas referentes às abordagens atuais. A pesquisa tem como principal objetivo investigar as propostas de estreitamento entre a cena contemporânea e o espectador transeunte nas ruas de São João Del-Rei, visando analisar a inserção do público como participante das ações performáticas, na busca de:

(...) Utilizar o ambiente urbano de maneira diferente das prescrições implícitas no projeto de quem o determinou; enfim, de dar-lhe [espectador-cidadão] a possibilidade de não assimilar, mas de reagir ativamente ao ambiente. (ARGAN, 1998, p. 219)

Os membros atuais do grupo Transeuntes são:

Professores - Ines Linke e Marcelo Rocco.

Alunos - Débora Trierweiler; Diego Souza; Diogo Rezende; Fernanda Junqueira; Gabriela Ferreira; Guilherme Soares; Halina Cordeiro; Henrique Chagas; Isabela Francisconi; Kauê Rocha; Nathan Marçal; Paula Fonseca; Rick Ribeiro; Tatiane Talita.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Reflexão sobre a visita a exposição ELLE: Mulheres Artistas na Coleção Pompidou

O Prazer é das Mulheres.
Pretendo relatar aqui minhas impressões sobre a exposição ELLE: Mulheres Artistas na Coleção Pompidou e para tanto usarei como base a visita á exposição realizada no dia dezenove de outubro bem como meu conhecimento sobre algumas artistas e suas respectivas obras.
A exposição, conhecida na França como expo-coleção, vem de encontro com o reconhecimento da mulher enquanto artista, quando esta deixa de ser tema, modelo para se tornar o fazedor. Não que as expressões artísticas masculinas que representaram a mulher sempre foram indignas, mas temos aqui um reconhecimento e identificação diretos. As obras, que fazem parte do acervo do centro Pompidou, trazem uma verdade sobre a criação da mulher em arte levantando diversos questionamentos sobre este papel. Todas as obras faziem parte da coleção do museu o que demonstra que  a importância associada ás artistas em manifestações e expressões artísticas talvez se deva mais ao desconhecimento do que de sua efetiva presença. Aqui não cabem artistas cuja bografias apresentem pseudônimos ou produções artísticas obscurecidas pelas personalidades ou visibilidade de seus amantes e parceiros. São elas, a partir de suas obras que nos demonstram que se não são comparáveis em números com os artistas homens, o são em importância nos movimentos e valores artísticos de suas obras. Seus espaços de atuação foram conquistados com trabalho e luta. Talvez por isso, como Frida recusem serem tratadas como sonhadoras.
Em seu “O QUADRO” a artista mexicana nos apresenta um auto-retrato em uma moldura típica de santos, muito comum em seu país. Os diálogos possíveis falam diretamente á questão do artista. Serão eles deuses? Santos? Mártires? O sofrimento de uma santa até chegar á beatificação podem também ser os dos artistas, ainda mais se forem mulheres. Em uma sociedade e classe machista Frida se impôs criando obras de uma verdade escandalosa. Pintou-se imóvel em uma cama de hospital e não exitou em traduzir em tintas na tela a dor de ver seu filho não nascido em um pote de vidro. A presença da artista na exposição fala mais do que a obra escolhida. Pertencente á coleção do centre Pompidou o que “O Quadro” traz são todas os sentimentos  e cores de Frida que não cabem neste tamanho mínimo mas estão sempre ali nas questões dos artistas. Bem como nas obras de Diane Arbus.
Fotografando o cotidiano e suas cerimônias a artista apresenta figuras do submundo, revelando sua existência e insultante presença. Estão ali a prostituta, a drag, o travesti. Estão ali o humano e a realidade das cidades que insistem em esconder o que elas mesmas comportam. Não cabe aqui o comedido esforço de Valérie Belim que tenta nos confundir, e assim atentar, para a artificialidade de nossa adoração pela imagem ideal. Cruelmente expostos vemos nas fotografias de Diane uma denúncia do que existe para além das galerias e espaços higienizados.
Presença também existe nas reproduções em vídeo das performances de Marina Abramovic. Ela fala da beleza da arte e do próprio artista trabalhando o limite do corpo, da dor e da exaustão. As possíveis leituras de suas performances mais recentes evidenciam como suas escolhas auxiliaram em seu crescimento como artista e como a absorção das técnicas ocorreram no interior de sua próprio fazer artístico. Seja dançando por horas, seja sentada em uma cadeira dentro de um museu, Marina consegue articular os elementos escolhidos com destreza incrível. Se as artistas como Maia Helena Vieira da Silva e a polonesa Alice Halicka comprovam como foram condizentes com os movimentos artísticos aos quais pertenceram Abramovic rouba a cena, instaurando uma presença sigular na arte da performance que engloba em grande parte mulheres artistas. Tal afirmação pode ser exemplificada com outros nomes da exposição.
Orlan, Valie Export, Ana Mendieta e Regina José Galindo são artistas que foram além das convenções do fazer artístico. Seja com intervenções cirúrgicas reais, seja colocando o corpo ao toque, apreciação e manuseio, todas se tornam obra. Sem seus corpos e presença física não podem existir. Ou o fazem apenas como memória em vídeo que se nos faz perder o encantamento e energia da hora da ação, nos permitem imaginar e contatar com as potências de cada proposta.
Muito potentes as fotos de Nan Goldin. Nelas me incomoda apenas as escolhas das projeções entre os casais homossexuais que, comparando com ás de héteros, trazem maior apelo pornográfico. Fiquei Interessado em saber mais sobre as relações da artista com as questões homoafetivas.
Extremamente potentes as articulações entre objetos relacionados ao universo feminino apresentados por algumas artistas. Destaque para Sigalit Landau que numa dança com bambolê de arame farpado, fala do sofrimento da mulher e suas obrigações. Do limite do alcance feminino imposto pela sociedade e da submissão das mulheres á diversas atividades em sua maioria não escolhidas. Sanja Ivekovic cortando a meia de seda que cobre seu rosto fala também dos riscos do feminino. Do constante perigo de ser mulher,  das especificações de atender a um ideal na maioria das vezes inquestionável. Sonia Andrade e Orlam também o fazem, mas se a primeira nos agonia pela modificação momentânea de sua figura, usando o buraco do brinco, a segunda vai além com modificações cirurgicas permanentes, em busca de uma beleza escolhida por outros que nem mais sabemos que não nós. Germaine  Richier usa um vaso para construir sua escultura. É a mulher utensílio. A casa que não sai da mulher que não sai de casa. Martha Rosler questiona também o lugar reducionista destinado a mulher com seus utensílios incrustados na escala doméstica. É preciso uma Guerrila  Girls para confrontar não só tais estruturas, mas o próprio museu, reivindicando uma participação feminina que vá além de meras modelos. Fico extremamente incomodado com o bicho carangueijo de Lygia Clark não poder ser manuseado. A troca entre o expectador e a obra, que só existe em seu sentido original a partir dos “estímulos”, fica prejudicada. Entendo a importância de conservação do original, mas uma solução poderia ser uma réplica para manuseio direto. Nestes momentos reflito sobre como o artista pensaria a curadoria de suas obras. Louise Borgeois jamais concordaria em saber que uma de suas aranhas está presa em uma sala envidraçada do MAM em São Paulo, ainda bem que aqui suas obras, se não podem ser toados, poder ser apreendidas de perto. Suas pinturas e bordados sobre papel falam da mulher e da delicadeza de cada existência. Da efemeridade da arte e do humano. Grande presença entre tantos nomes importantes e relevantes para o meio artístico.
Sendo assim podemos considerar que a iniciativa do centro Pompidou além de promover uma maior conscientização de outras instituições para a aquisição de obras relevantes para seus acervos cuja criação seja de mulheres coloca no centro das discussões a importância destas obras e de suas criadoras para a produção artística mundial. O CCBB de Belo Horizonte demonstra com a escolha desta exposição que pode oferecer mais do que momentos de “PRAZER” em labirintos especulativos sobre a vida de escritores cuja relevância de suas produções não são reveladas nem na escolha do material dos praticáveis.

Luís Firmato