Bem Vindo!

TRANSEUNTES

Criado em abril de 2012, o grupo de pesquisa"Transeuntes: Estudos sobre performance e Teatro performativo" foi formado a partir da necessidade de artistas em ampliar os estudos sobre as intervenções performáticas nas ruas. Em parceria entre Professores e Alunos do Curso de Teatro (COTEA) da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), o projeto consiste, entre outros pontos, em estudos teóricos sobre determinados autores que abordam o teatro nas ruas e em experimentações práticas que visam inserir o espectador transeunte na construção dos processos criativos, a partir das temáticas referentes às abordagens atuais. A pesquisa tem como principal objetivo investigar as propostas de estreitamento entre a cena contemporânea e o espectador transeunte nas ruas de São João Del-Rei, visando analisar a inserção do público como participante das ações performáticas, na busca de:

(...) Utilizar o ambiente urbano de maneira diferente das prescrições implícitas no projeto de quem o determinou; enfim, de dar-lhe [espectador-cidadão] a possibilidade de não assimilar, mas de reagir ativamente ao ambiente. (ARGAN, 1998, p. 219)

Os membros atuais do grupo Transeuntes são:

Professores - Ines Linke e Marcelo Rocco.

Alunos - Débora Trierweiler; Diego Souza; Diogo Rezende; Fernanda Junqueira; Gabriela Ferreira; Guilherme Soares; Halina Cordeiro; Henrique Chagas; Isabela Francisconi; Kauê Rocha; Nathan Marçal; Paula Fonseca; Rick Ribeiro; Tatiane Talita.

domingo, 29 de novembro de 2015

Casa aberta: arte e pesquisa

O II Seminário Internacional Casa Aberta aconteceu de 26 de outubro à 8 de novembro. O seminário ocorre em consonância com a semana acadêmica do curso de teatro. No dia 30 de outubro alunos do curso de graduação em teatro da UFSJ se encontraram para trocar as experiências profissionais e acadêmicas na forma de comunicação oral. O grupo Transeuntes – Urbanidades marcou presença com estudos realizados a partir do espetáculo Deus é Fiel- Marca Registrada. Acentua-se a produção científica estimulada pelo grupo e a dedicação à pesquisa que o espaço acadêmico reflete. Os trabalhos podem ser encontrados na íntegra no livro Pequeno mapa de encontros e afetos organizado pela Professora Doutora Juliana Mota do curso de teatro. Abaixo encontram-se os títulos publicados e seus respectivos autores.

Notas sobre a cidade atravessada: as inserções do projeto urbanidades em são joão del-Rei – breve estudo sobre a encenação – Deus é Fiel- Marca Registrada.
Iolanda de Lourdes, Ines Link, Luis Firmato e Marcelo Rocco.



A reação transeunte frente a um espetáculo performativo: um estudo sobre Deus é Fiel- Marca Registrada.
Kauê Rocha

A submissão e o direito da mulher a partir do espetáculo Deus é Fiel- Marca Registrada.
Diego Machado e Fernanda Junqueira



A relação do corpo e as materialidades do espaço urbano como potencializador da dramaticidade da cena.
Edder Cardoso







A REAÇÃO TRANSEUNTE FRENTE A UM ESPETÁCULO PERFORMATIVO: UM ESTUDO SOBRE DEUS É FIEL - MARCA REGISTRADA

KAUÊ ANTONIO DA SILVA ROCHA1


ENSAIO E REAÇÃO
       

       Quando se inicia o processo de montagem de um espetáculo na rua, todo ensaio é vivido como a apresentação oficial. O público se forma gradativamente: alguns passantes interrompem seu percurso para acompanhar a inabitual movimentação em certo espaço da cidade; outros pelo menos observam as ações até seguirem seu caminho adiante, outros veem as cenas dos locais que estão; além das pessoas que já estavam no espaço de ensaio e foram surpreendidas pelo grupo. A cidade não está disponível para as sequências de ensaio que todo ator e diretor deseja (CARREIRA, 2010, p. 5)2. Desse modo, pode-se esperar qualquer tipo de reação da plateia formada, desde admiração e riso a ojeriza e revolta. Entretanto, quando se põe em prática aspectos conflitantes, como a montagem de um espetáculo cujo tema é a crítica a exploração da fé em uma cidade dominada por igrejas históricas e grande parte da população religiosa, os atores-performers preparam-se para enfrentar mais riscos durante o desenvolvimento das cenas. Tomando como ponto de estudo as situações vividas pelo grupo Transeuntes durante os ensaios e apresentações do espetáculo DEUS É FIEL – MARCA REGISTRADA em julho de 2015, vamos perceber as diversas reverberações das pessoas perante momentos que subvertem os fluxos da cidade.
         O espetáculo se constrói pelas ruas da cidade sendo guiado pela orientadora Abiqueila3, ocupando espaços do Centro e evidenciando a composição dos atores-performers, que criam figuras e personas e/ou personagens, escrevendo um texto urbano que critica extremismos religiosos que desprezam e atacam certas identidades, abordando temas como o lucro a partir da fé alheia, a homofobia, a submissão da mulher na atualidade (GASPERI,2015)4.


1 Graduando do curso de licenciatura em Teatro (COTEA), da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Bolsista/voluntário do curso de extensão Urbanidades. Estudante-pesquisador do grupo de pesquisa Transeuntes, cadastrado pelo CNPQ. Bolsista do Programa de Iniciação à Docência (PIBID Teatro). Membro do projeto de extensão Murundum- Grupo de Dança Contemporânea da UFSJ.
2 CARREIRA, André. A cidade como dramaturgia do teatro "de invasão". Disponível em: pt.scribd.com/doc/40287815/andre-carreira-a-cidade-como-dramaturgia#scribd. Acessado em: 30/09/15.
3 Interpretada pela atriz Lucimélia Romão.



Em um dos momentos da peça, uma bruxa é atacada por três anjos barrocos e amarrada em um poste; situação que desencadeia uma histeria coletiva e incentiva a orientadora a estimular a população a curar a mulher da bruxaria através de bolinhas oferecidas por dois vendedores. Esta cena faz referência à Fabiane Maria de Jesus, linchada e morta por moradores da periferia da cidade de Guarujá, em São Paulo, no ano de 2014, após ser acusada de sequestrar crianças para realizar magia negra. Durante os ensaios, tal cena sempre chamou a atenção dos transeuntes; entretanto, até metade deles, não houve nenhuma interrupção externa. Por mais que essa situação vista incitasse alguma interferência, o público parecia sentir a energia do grupo e ter receio de invadi-la. Porém, em certo ensaio, no ápice da histeria, dois jovens alheios à peça, que passavam pelo local, se aproximaram e pararam a cena, questionando o que estava acontecendo. A orientadora improvisou seu diálogo, tentando incorporar a cena à interrupção e convidando os rapazes para ajudarem a curar a bruxa. Um deles se afastou; o outro, desinteressado com a proposta feita e com a crença de que o fato era real, acusou o grupo de machucar a mulher amarrada ao poste e de causar barulho em sua vizinhança. Naquele momento, houve uma diluição entre o real e o ficcional, ocasionando uma quebra na energia dos atores imersos na cena. A inversão dos papéis sociais daquele momento, onde o pedestre se tornou uma figura de autoridade, despertou diversas respostas improvisadas dos atores. Depois de tentativas de trazer o jovem para a cena, atingiu-se o limite de uma possível jogo com ele, quando o mesmo disse que "daria tiros" caso o fato não parasse. Foram feitas várias tentativas, mas o grupo não conseguiu resolver a situação por meio da própria cena. Após este acontecimento, o diretor e os atores, temendo uma retaliação mais grave, comunicaram a ele que tal situação fazia parte do ensaio de uma peça de teatro, não sendo real. Visivelmente confuso, constrangido e posto em evidência, o rapaz iniciou uma série de justificativas, pondo em contradição pontos que havia falado. Encaminhado o ensaio para o espaço da cena seguinte, a atriz que interpreta a bruxa amarrada5 chamou o jovem para conversar, explicando sobre o grupo e convidando-o para assistir a apresentação. Essa situação, nesse dia, foi encarada pelo grupo como um dos momentos de maior risco vividos durante o processo, devido ao fato do risco físico dos atores. Segundo Carminda Mendes André, inspirada no livro O Teatro Pós-Dramático de Lehmann (2007), o risco é ao mesmo

4 GASPERI, Marcelo Eduardo Rocco de. Sinopse do espetáculo Deus é Fiel - Marca Registrada. Disponível em: www.invernocultural.com.br/wp-content/uploads/2014/05/guia-de-eventos_SJDR-281C2.pdf .Acessado em: 30/09/15.
5 A atriz Iolanda de Lourdes

tempo uma realidade da rua e um estimulante para o artista (ANDRÉ, 2007, p. 61)6. Curiosamente, nos dois dias de apresentação, o rapaz estava junto ao público, trazendo outros jovens de seu bairro para assistir ao espetáculo. Tal fato teve grande importância, já que mostrou o entendimento do rapaz em relação à cena e a presença de um público que possivelmente não está acostumado a ir ao teatro. Depois de vivenciar um momento crítico, os atores/performers puderam acrescentar na cena de histeria coletiva suas reações vividas com a possibilidade de uma interferência.

             Segundo Carreira (in LIMA, 2008), o risco físico permite a difusão de percepções dos atores                a partir dos possíveis efeitos dos seus gestos e deslocamentos, sobretudo quando os atores se                colocam em espaços não confortáveis e desconhecidos. Portanto, o risco revela-se como a                     possibilidade de imprevistos, e até de perigo à integridade física        
                         (CARREIRA apud GASPERI, 2010, p.17)7

      O espetáculo DEUS É FIEL - MARCA REGISTRADA usa de espinhosos temas para provocar os espectadores a uma reflexão sobre seus extremismos e preconceitos. Essa provocação lançada suscita no público diversos tipos de reação. Estando o espetáculo na rua, o espectador tem uma maior liberdade de evidenciar para o restante do público suas impressões.
Esse local específico e único, muitas vezes aberto à própria cidade, e às eventuais interferências dos espectadores-atuadores, vai trazer ainda a questão do inesperado, do diálogo e da incorporação do acaso dentro da obra. Como Glusberg aponta, "deve-se ter em mente que o elemento inesperado na performance é inesperado não só para o espectador, [...] mas também e primeiramente ao artista de performance, cujo trabalho sempre tem um aspecto de inesperado" (GLUSBERG apud ARAÚJO, 2009, p. 254)8


6 ANDRÉ, Carminda Mendes. O Teatro pós-dramático na escola. 2007. 206 f. Tese (Doutorado em Educação)– Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2007. 7 GASPERI, Marcelo E. R. A aproximação entre a cena contemporânea e o espectador transeunte na sociedade espetacularizada: as margens do feminino: agrupamento Obscena. 2010, 103f. Dissertação (Mestrado em Artes) - Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Belo Horizonte (MG), 2010.
8 ARAÚJO, Antonio. A encenação performativa. Disponível em: www.revistasusp.br/salapreta/article/view/60357 Acessado em: 30/09/15

              O grupo também presenciou outro momento de interferência de um espectador durante os ensaios em julho. Nesse caso, a cena estava sendo realizada nas escadarias do Teatro Municipal e, como de praxe, um pequeno público se formou ao redor dos atores. Nela, a orientadora Abiqueila tentava "curar" um homem manco e um homossexual, pedindo para isso uma contribuição monetária mensal e entoando cânticos acompanhada de sua banda. Um cidadão presente nesse público tirou seu celular e começou a filmar o ensaio, o que não foi visto como problema pelo grupo num primeiro momento. Todavia, o homem, que se identificou como um professor do curso de Arquitetura, começou a gritar críticas ao grupo enquanto realizava a filmagem, virando a câmera para si e lançando críticas até mesmo ao curso de Teatro, condenando os atores por usarem um espaço público da cidade para realizar algo, segundo ele, errado. Inicialmente, houve revolta por parte do grupo, que chegou a iniciar uma discussão com o homem, questionando os argumentos do mesmo para censurar o ensaio. Mas, visto que ele fazia críticas com poucos fundamentos e apenas para provocar, os atores incorporaram a interferência à cena, cantando uma das músicas do espetáculo para ele. Vendo que seu jogo de exposição havia sido comprado, o homem desligou o celular e se retirou. Essa situação durante um ensaio incentivou o grupo a pensar sobre as inúmeras respostas do público diante do espetáculo, ocasionando a posterior realização de um exercício em que os próprios atores se colocavam no lugar da plateia, criando atitudes que pediriam improvisação.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS
                    
           De acordo com André Carreira, reconhecer a imprevisibilidade significa aceitar a possibilidade, ainda que momentânea, de uma completa inversão de papéis sociais, e até mesmo da desorganização da ordem estabelecida (CARREIRA, 2010, p.5)9. A cidade vive um fluxo contínuo e intenso, com os pedestres se deslocando pelo espaço sem muitas vezes percebê-lo. Quando essa rotina costumeira é cortada pelos ensaios de um espetáculo de rua, o transeunte se vê como testemunha das ações, despertando seus princípios e formulando questões. Cabe a ele expor suas opiniões ao grupo ou seguir seu curso. Os momentos vivenciados pelo grupo durante os ensaios desenvolveram várias reverberações que foram posteriormente aplicadas no espetáculo. Trazer o espectador a cena, improvisar com ele e conhecer seus argumentos fortalecem as ideias.


9 CARREIRA, André. A cidade como dramaturgia do teatro "de invasão". Disponível em: pt.scribd.com/doc/40287815/andre-carreira-a-cidade-como-dramaturgia#scribd. Acessado em: 30/09/15


sábado, 21 de novembro de 2015



NÃO SE VIVE, NÃO SE MORRE, NÃO SE AMA NO RETÂNGULO DE UMA FOLHA DE PAPEL

Clóvis Domingos (clovpalco@gmail.com) - Orientador: Prof. Dr. Maurílio Rocha - UFMG (mauriliorocha13@gmail.com)
Isaque Ribeiro (isqrib@gmail.com ) - Orientadora: Profa. Dra. Mariana de Lima Muniz- UFMG (marianamuniz32@gmail.com)
Marcelo Rocco (marcelorocco1@gmail.com) - Orientadora: Profa. Dra.          Mariana de Lima Muniz - UFMG (marianamuniz32@gmail.com) co-orientadora: : Profa. Dra. Elvina Maria Pereira Caetano – UFOP – (ninacaetano@gmail.com)
Thálita Motta (thalita.art@hotmail.com) - Orientador: Prof. Dr. Maurílio Rocha- UFMG (mauriliorocha13@gmail.com)


RESUMO: O “Terreiro de Pesquisa”, grupo de estudos formado por estudantes da linha de Artes da Cena (EBA/UFMG), tem como elemento transversal o pensamento sobre a performatividade e a prática performática, entendidos como zonas de ação das nossas pesquisas em processo no PPG-Artes. Na esteira das zonas liminares, busca-se, por meio de uma escrita coletiva, evidenciar as encruzilhadas conceituais que perpassam os artistas-pesquisadores, tais como: corpo/cidade, performatividade/performático, teatralidade e também acerca das implicações entre ética/estética/política. Ainda neste caminho, o grupo resiste às definições dadas como conclusivas, tensionando as certezas sobre o establishment, o eu e o outro, buscando exercitar a alteridade, expressão, mudança; recusando o imediatismo das oposições binárias. No Terreiro de Pesquisa buscam-se metodologias que abarquem a complexa tarefa de aliar teorias e práticas artísticas de pesquisas que se encontram nos entrelugares ou que não estão propriamente situadas em um campo estável do pensamento sobre as artes cênicas. Assim, propõem-se investigações e incorporações de práticas micropolitícas de resistência urbana, atentas à produção de fissuras no tecido político/econômico/subjetivo da macropolítica da cidade neoliberal.
PALAVRAS-CHAVE: Encruzilhada, corpo/cidade, performatividade/performático, políticas e heterotopias.


DO TERREIRO DE PESQUISA: PREÂMBULOS DE UMA ESCRITA PERFORMATIVA
Do terreiro (substantivo transgênero): Terra. Chão. Solo. Território de embate do corpo com a pele do mundo, talvez a pele mais exposta, mais desnuda do mundo. Pisar, dançar, girar - corpo em performance, corpo em festa. Festejar. Mais do que a transcendência, interessa ao grupo a dimensão imanente desse chão, antes mesmo que a poeira se levante. No corpo se teoriza e se pratica arte/vida, ou assim, o grupo intenciona. Modo de pesquisar diferentes linhas, riscados e rabiscos. O traçado é feito de pontos divergentes, convergentes, insurgentes e até dissolventes. O ponto riscado no chão da experiência cruza saberes diversos, tantos quanto os raios que partem de um centro. Arte atravessada por forças distintas. A experiência é uma prática de empoderamento. A reflexão crítica move os princípios e os precipícios e traz novos conceitos agora incorporados até o risco, até a beira. Incorporação (TAYLOR, 2013). Nesse terreiro, o grupo não quer “fechar o corpo”, pelo contrário, o desejo é pelo corpo aberto, poroso, travesso como Erê, transverso como Exu, flechado pelo caboclo Sete Forças, Sete Afetos, Sete Mundos. Tentativa de alargar espaços de troca, de afetos. Espaços de um pensar que ginga, que brinca. Arte, acontecimento, ajuntamento, cidade, corpo, festa, política, performance e bailados que possam reinventar e oxigenar as pesquisas. No Terreiro se pensa a festa festejando o pensar.
Da pesquisa: experimentação intensa. Corpos em risco no campo riscado pelas linhas do desejo. Debruçar-se sobre o que se deseja investigar é sempre um risco, assumir o desejo na pesquisa é a primeira ginga. É preciso encará-lo de frente. Incorporá-lo. Imagens, textos, práticas e conversas são os elementos que produzem as oferendas e os despachos. Aqui se despacha na rua, galeria, teatro, igreja e na universidade. Todos os espaços são possíveis de despacho. Todos os espaços podem se tornar lugares (CERTEAU, 1996), para isso, a prática. Para que a pesquisa se torne lugar: a prática. Lugar praticado para um pensamento incorporado, que não esconde suas afecções. Não buscamos predominâncias, mas alternâncias, intermitências. Pesquisa como lugar de pluralidade. No terreiro “baixam” conceitos de toda ordem e desordem e a possibilidade de encontros, conflitos e dúvidas é o que nos baila. Nele queimam nossos medos e desejos na pira do ritual.
Dos saberes: sempre liminares. Campos instáveis. O grupo fala de muitos lugares, mas o corpo é o território circulante, habitável. Corpografias. Corpocidades. Saberes mestiços que tentam resistir frente a uma ameaça de epistemicídio. O que sabe um corpo? O que pode um corpo? O que pode um corpo saber? E como?
Da encruzilhada: sempre perigosa e conflitante, aponta muitos caminhos e nenhuma certeza. Pode vir de lá, de longe, do desconhecido, aí encontra, risca, corta, junta, sobrepõe, desenha, complica, explica, pontua, excede e festeja. Primeiro o Exu! Bara, em yorubá significa “rei do corpo”. Na simbologia de Exu, orixá da palavra e da comunicação, encontramos a mesma crítica nietzscheana ao lógos ocidental. Na criação desse terreiro, não se trata de investigar necessariamente as raízes africanas, este seria apenas um modo metafórico e provocativo de se permitir a ampliação de um pensar/fazer artísticos sempre renovados, efervescentes. Na encruzilhada as conexões são múltiplas. Nela há o outro, sua pesquisa e os nossos atravessamentos plurais. A performatividade é o que atravessa e intersecciona, criando mais uma camada de traço e de risco.
Sobre o processo de pesquisa do grupo: ainda incipiente, pode-se dizer que o grupo Terreiro de pesquisa se apropria do conceito de “margem” sem a pretensão de discursar sobre a contraposição binária à arte dada como oficial e a arte que não trafega no circuito oficial. Contrariamente, tem-se a noção de que o grupo trafega em um território de pesquisa amplamente estudado na atualidade. Tem-se a ciência de se fazer parte de uma pequena categoria de artistas usufruidores e também construtores de uma arte vinculada na produção acadêmica, ainda que tensionando seus territórios.  Neste sentido, o grupo denomina a sua pesquisa como atuante nas “margens” pelo fato de este realizar determinados recortes teóricos que ainda não aparecem como o principal foco da preocupação de pesquisa em pós-graduação em artes cênicas. Ou seja, o grupo ainda transita pelas bordas, no limiar entre a academia e a rua (onde se dá a nossa prática performática, os objetos de investigação e nossa cotidianidade), entre a institucionalização da arte e trajetos que ainda não são confortáveis, que não foram enraizados pelo tempo. Falamos de uma pesquisa que ainda é escorregadia, que se faz ao caminhar.
SOBRE ALGUNS ATRAVESSAMENTOS DO GRUPO
A noção de performatividade
Josette Féral (2008) se apropria da noção dos conceitos operativos da performance art para criar a terminologia “teatro performativo”, a fim de abarcar uma variedade de expressões artísticas inseridas no teatro contemporâneo, mostrando que a arte teatral foi favorecida por esta linguagem insurgente.

[...] se há uma arte que se beneficiou das aquisições da performance, é certamente o teatro, dado que ele adotou alguns dos elementos fundadores que abalaram o gênero (transformação do ator em performer, descrição dos acontecimentos da ação cênica em detrimento da representação ou de um jogo de ilusão, espetáculo centrado na imagem e na ação e não mais sobre o texto, apelo à uma receptividade do espectador de natureza essencialmente especular ou aos modos das percepções próprias da tecnologia) (FÉRAL, 2008, p.198).
Sobre estas acepções, Féral (2008) descreve que as abordagens teatrais quanto à constituição do personagem, entre outras matrizes cênicas, fundamentais ao longo da história do espetáculo ocidental, passam a conviver com outras formas específicas do teatro contemporâneo, cujos significados da presença cênica, instaurados no corpo do ator, não deixam os elementos supracitados morrer, mas retiram as hierarquizações antes postas.
Referente à cena contemporânea, pode-se dizer que a performance art desestruturou, em meados do século XX, as noções sedimentadas de teatro, modificando a perspectiva da cena até a atualidade. Nascida da multidisciplinaridade, a performance art se lançou como linguagem investigativa, empreendendo a conjugação entre várias formas artísticas que, anteriormente, eram estudadas de maneira fragmentada (SCHECHNER, 2003). Tal linguagem nasceu comprometida com os processos criativos autorais, às vezes autobiográficos, extrapolando, assim, a relação mercadológica que as linguagens artísticas possuíam.
A performance art, em seu surgimento, criticava certas premissas inquestionáveis sobre o que é arte, abalando as concepções dadas por um sistema elitista que definia o que seria ou não aceito pelo mercado (GOLDBERG, 2006). Contrários a essa concepção mercadológica, muitos artistas inquietos usaram a performance art como meio de veiculação de ideias, como forma permeável de articulação entre as diversas falas, e, sobretudo, como lutas ideológicas, enfrentando determinadas formas de exclusão.
Optando, diversas vezes, por trabalhos autobiográficos e trazendo questões consideradas, aparentemente, do âmbito privado, diversos artistas performáticos abordaram temas de suas vidas cotidianas que ecoavam em questões sociais, tais como o racismo, xenofobia, entre outros, caminhando gradativamente da esfera da vida privada para uma política em escala “macro”, propondo ao público, uma reflexão aprofundada acerca de tais temas.
Seus praticantes [da arte da performance] quase que por definição, não baseiam seus trabalhos em personagens previamente criados por outros artistas, mas em seus próprios corpos, suas próprias autobiografias, suas próprias experiências, numa cultura ou num mundo que se fizeram performativos pela consciência que tiveram de si e pelo processo de se exibirem para uma audiência. Desde que a ênfase esteja na performance e em como o corpo ou o self é articulado por meio da performance, o corpo individual permanece no centro de tais apresentações. (CARLSON, 2010, p. 17).
Dentro desta esfera, pode-se dizer que, ao revelar os elementos constituintes das próprias experiências, os performers traziam à tona camadas de consciência sobre suas preocupações de âmbito social. Segundo Carlson (2010), determinadas performances tornaram-se ferramentas políticas, chamando a atenção para as causas humanitárias, sendo elas, vozes dos oprimidos, estes sistematicamente violentados pelos aparelhos hegemônicos.
A obra da performance, baseada primeiramente em material autobiográfico e frequentemente dedicada a dar a voz aos indivíduos ou grupos previamente silenciados, tornou-se no início de 1970, e ainda permanece nos anos 90, a maior parte da performance social e politicamente engajada (CARLSON, 2010, p.187).
Sendo assim, a natureza da performance art não tende a delimitar espaços de poder, mas busca provocar o espectador, dar a ele novos rumos de percepção, sem a finalidade de fechar a obra, como os modelos tradicionais de representação geralmente fazem. Neste Caminho, a performance art resiste às definições dadas como conclusivas, dissolvendo as certezas sobre o redor, sobre eu, sobre o outro, trazendo consigo a ideia de alteridade, de expressão, de mudança.

Sobre o corpo e a cidade
Nas pesquisas do grupo se entrelaçam ações artísticas no espaço público através das práticas de alguns indivíduos e coletivos. Estes desejam criar brechas no uso às vezes apenas utilitário da cidade e tentam criar planos afetivos, oníricos e artísticos num desejo de tornar o corpo da cidade mais permeável aos encontros e trocas. A lógica do consumo agora naturalizada no uso do espaço acaba por dificultar contatos que valorizem a dimensão humana, convivial e até mesmo poética. Para Santos (2008)
O endurecimento da cidade é paralelo à ampliação da intencionalidade na produção dos lugares, atribuindo-lhes valores específicos e mais precisos, diante dos usos preestabelecidos. Esses lugares, que transmitem valor às atividades que aí se localizam, dão margem a uma nova modalidade de criação e escassez, e a uma nova segregação. Esse é o resultado final do exercício combinado da ciência e da técnica e do capital e do poder, na reprodução da cidade (SANTOS, 2008, p.251).
Contra as políticas do medo e do isolamento social, indivíduos e coletivos artísticos praticantes da arte urbana tentam tecer novas territorialidades e temporalidades no intuito de se efetuar um contra-discurso à lógica capitalista. Uma forma de arejar os espaços numa proposta que visa garantir a vitalidade das membranas desse corpocidade. Ações de intervenção e composição urbanas de alguma forma criam zonas temporárias e espaciais renovadas pela presença do corpo afirmando a cidade como espaço de contaminação e heterogeneidades. Isso porque:
[...] o viver e o vivido individuais se reafirmam contra as pressões políticas, contra o produtivismo e o econômico. Quando não confronta uma política com outra, o protesto encontra apoio na poesia, na música, no teatro, e também na espera e na esperança do extraordinário, do surreal, do sobrenatural, do sobre-humano. (LEFEBVRE APUD MARTINS, 1996, p.44).
        Hoje se percebe a insurgência, em todo mundo, nos últimos anos, de artistas e agrupamentos artísticos independentes interessados em problematizar as temporalidades e espacialidades humanas funcionando como corpos complicadores do senso comum e das práticas ordinárias das cidades. Como ação transformadora, a performance de rua ou intervenção urbana se infiltra nas brechas de uma cidade organizada e de alguma forma resiste e contesta os discursos nela vigentes.
            Poderíamos pensar essas intervenções como interversões, isto é, “entre-versões” ou outras versões coexistindo nos espaços. Ou até uma contra-versão, no sentido de uma resposta frente a uma versão dada como oficial e totalitária, o que se aproximaria de uma ideia de contravenção, algo que acontece numa certa ilegalidade, expressão que muito interessa ao grupo nesse tipo de prática. O fato é que:
As obras de arte no espaço público realizam uma experiência sensível e questionadora de consensos estabelecidos e, sobretudo, potência explicitadora de tensões do e no espaço público, em particular diante da atual pacificação, despolitização e estetização consensual dos espaços públicos globalizados (JACQUES, 2003, p.27).
Essas práticas também conhecidas por “arte-ação” tentam promover a inscrição da diferença e do desassossego em espaços que insistem em se manter homogeneizados. Nesse ponto já é possível identificarmos uma forma de operação política. Para Caballero (2011, p.47) tem-se hoje “a emergência de estados efêmeros de encontro que dão espaço a gestos de dissidência e de diferença, e que por isso mesmo invertem as relações com o que nos rodeia”.
            Cada vez mais isolados, ainda que juntos, temos experimentado a cidade como lugar de passagem e não mais como território de encontros. A nós, praticantes da cidade, resta uma vivência empobrecida dos espaços públicos com a instauração de projetos de arquiteturas assépticas e espetaculares (a “cidade outdoor”, na expressão de Jacques [2003]) e não como um lugar de trocas humanas e afetividades, além de relações de naturezas diversas. E isolados perdemos a capacidade política e a faculdade de agir (ARENDT, 2007).
Daí o aspecto político e social da intervenção urbana, como um convite a vivermos a arte como dimensão convivial e “não necessariamente no nível de coletividades massivas, mas também de micro-comunidades e micro-encontros” (CABALLERO, 2011, p. 47). Isso com a criação de obras e situações que podem inclusive ultrapassar e abandonar seus objetivos artísticos, tocando em pontos como cidadania e ações de protesto que atuam em esferas das micropolíticas.
Protestos políticos com festas na rua, ocupações artísticas e comportamentos expressivos individuais e coletivos, greves, piquetes, ocupações, manifestações, bloqueios e paralisações configuram um universo de práticas de ativações que tensionam e estreitam a complexa relação entre arte e política. Por sua vez, tem se tornado mais visível -- dado à facilidade de se estruturar redes na contemporaneidade -- a sua potência em estabelecer trânsitos entre o global e o local, tornando seus vetores ainda mais complexos e fluidos.
Tais inserções estético-políticas estão presentes nas carnavalizações atuais (como nas manifestações públicas), nas quais se pratica a subversão pela comicidade e pela desordem. Sejam nas manifestações que se apresentam de modo festivo, assim como nas intervenções urbanas de um modo geral. Elas provocam e ativam de um modo outro o espaço social, instaurando sobreposições do espaço dado em relação ao espaço como é praticado, dimensionando, em toda sua transitoriedade, o espaço heterotópico (FOUCAULT, 2013).
            Para Foucault (2013), as heterotopias seriam contraespaços, ou seja, espaços absolutamente outros, que se distinguem do plano das utopias que não possuem espaço algum. Estão inseridos no plano da imanência e existem em toda parte. Sendo assim, são lugares permeáveis, de transição, de rito, de clausura, ou seja, espaços desterritorializados, conflitantes e temporários como são as festas de carnavalização política de espaços de controle e territórios em disputa. Foucault assim elabora:
Não se vive num espaço neutro e branco; não se vive, não se morre não se ama no retângulo de uma folha de papel. Vive-se, morre-se, ama-se em um espaço quadriculado, recortado, matizado, com zonas claras e sombras, diferenças de níveis, degraus de escada, vãos, relevos, regiões duras e outras quebradiças, penetráveis, porosas. Há regiões de passagem, ruas, trens, metrôs; há regiões abertas de parada transitória, cafés, cinemas, praias, hotéis, e há regiões fechadas do repouso e moradia. Ora, entre todos esses lugares que se distinguem uns dos ouros, há os que são absolutamente diferentes: lugares que se opõem a todos os outros, destinados, de certo modo, a apagá-los ou purificá-los. São como que contraespaços. As crianças conhecem perfeitamente esses contraespaços, essas utopias localizadas. (FOUCAULT, 2013, p. 19-20. GRIFO DO AUTOR)
São nessas utopias localizadas, habitáveis, efêmeras e instáveis que se situam as pesquisas do Terreiro de Pesquisa, ele mesmo como terreiro -- ainda que, por ora, em um plano metafórico-- um espaço heterotópico em construção que recusa à suposta neutralidade da folha de papel cartesiana, na qual não se vive, não se contamina, portanto, não se pesquisa, não se apreende e não se afeta.
É na tentativa de criar esses espaços de conflito, ou seja, que não fogem à sua complexidade ou ao seu caráter de contradição, que estratégias têm sido perseguidas, visando apenas agitar o modo solitário e habitual de como se tem pesquisado, a fim de estabelecer trocas mais profundas e incorporadas de modo coletivo, ainda em processo. Sempre em processo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
CABALLERO, Ileana Diéguez. Cenários Liminares – teatralidades, performances e política. Tradução de Luis Alberto Alonso e Angela Reis. Uberlândia: EDUFU, 2011.
CARLSON, Marvin A. Performance: uma introdução crítica. Tradução de Thaïs F. N. Diniz e Maria A. Pereira. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1998, 351p.
FÉRAL, Josette. Teatro performativo e pedagogia: entrevista com Josette Féral. Sala Preta, v. 9, p.25-267, 2009.
_______. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. Sala Preta, São Paulo, v. 8, p.197-210, 2008.
_______. Teatro, teoria y practica: más Allá de lás fronteras. Buenos Aires: Galerna, 2004. 221p.
FOCAULT, Michel. O corpo utópico, As Heterotopias. São Paulo: Editora N-1 Edições, 2013.
GOLDBERG, RoseLee. A arte da performance: do futurismo ao presente. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 228p.
JACQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva -escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
MARTINS, José de Souza. Henri Lefebvre e o Retorno da Dialética. São Paulo: Hucitec, 1996.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: espaço e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 2008.
SCHECHNER, Richard. O que é performance? O Percevejo, Ano II, n. 12. Rio de Janeiro: UNIRIO; PPGT; ET, 2006, p.28-51.
TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas. Tradução de Eliana Lourenço de Lima Reis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.



domingo, 15 de novembro de 2015


XIII SEMEX UFSJ:

Os desafios da produção artística no âmbito científico e acadêmico

A XIII Semana de Extensão Universitária da UFSJ foi palco para o espetáculo Deus é Fiel-Marca Registrada, apresentado pelo grupo Transeuntes o espetáculo performativo aborda temas como o lucro a partir da fé alheia, a homofobia, a submissão da mulher na atualidade, os extremismos religiosos que atacam e desprezam as identidades1. A apresentação aconteceu no campus Santo Antonio da Universidade Federal de São João del-Rei. O grupo se apropriou da fisicidade do campus através das ocupações prévias e a elaboração de um mapa indicando os novos espaços para a antiga estrutura cênica. O público foi receptivo e ao final aconteceu uma discussão construtiva sobre a encenação.
Mas, a inflexibilidade de algumas pessoas acentuou o preconceito vívido pelas minorias representadas no espetáculo. O Spotted UFSJ (uma página do facebook em que a autoria do post não é revelada) registrou o incômodo que o espetáculo ocasionou ao campus CSA.
A intolerância frente a arte por parte de alguns estudante, foi evidenciada por “ataques anônimos” na internet, suscitando a discussão da utilização dos espaços públicos e problematizando a questão da representação da minorias em obras de arte. A seguir, um exemplo sobre as postagens que emergiram no Spotted2 UFSJ:
e esse pessoal do CTAN que se desloca ao CSA para atrapalhar as aulas e o dia a dia das pessoas que trabalham aqui?Um grande VTNC SIM pro pessoal que tumultuou o pátio do CSA essa semana!se é teatro,dança,roda de viola,oferenda.FODA-SE! Vcs estão atrapalhando as atividades academicas no CSA seus merdinhas! Pensem bem antes de voltar aqui ou vai sair ruim pra vocês!
Vai tomar no %# esse povo do teatro,esse povo tem o direito de ir e vim quando quiser, gritar ou não andar com roupa ou despido, o CSA é tão meu quanto seu caralho só queremos que pare com essa piraca de gritaria e desses batuque com volume exagerados. não é possível que o espetáculo não pode ser mais baixo caramba. Pessoalmente acho super interessante essa atitude de vim apresentar em outro campus, porém da maneira que está acontecendo não dá, pensem um pouco antes de sairem fazendo essas coisas e larguem de ser individualistas e pensarem apenas no próprio beneficio, CARAMBA.”






1 Texto retirado da sinopse do espetáculo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Ocupação URBANIDADES-TRANSEUNTES no Solar da Baronesa

Urbanidades-Transeuntes
Solar da Baronesa
25 – 26 - 27 de setembro
[Ocupação]

 A expiação do eterno foi realizada pelo grupo Transeuntes na sexta feira [25]. A ação percorreu o doloroso caminho da paixão do eterno. Em cada estação, houve uma leitura e uma representação teatral ao fundo. Esquetes do espetáculo Deus é Fiel:Marca Registradaresignificou a via sacra. A caminhada despertou novas percepções acerca do espetáculo que teve sua ordem alterada pelos diversos espaços do solar, apostando na aleatoriedade das ações e das cenas ocasionando um evento performático.

         
  No sábado [26] o dia foi marcado pela festividade pagã, o Ostara-Equinócio de primavera, comemora a mudança do outono para a primavera. O dia foi ressaltado pelo grupo com uma dinâmica que articulava uma ponte entre os Transeuntes e a comunidade externa. A celebração da chegada da primavera tem por tradição cultuar a deusa Oster e Deusa Terra. No ritual, saúda-se as grandes Deusas com a magia dos cristais, a troca de flores e energia entre as pessoas que compõe o círculo mágico.


           
  Domingo [27] foi o grande culto da Orientadora Abiqueila, curando várias pessoas através do Eterno e espantando todos os tilelês com o auxílio da banda do Eterno. Se o culto tivesse um nome, seria Itair o nome dele. Itair foi uma presença especial para o culto, levando muito a sério tudo que a orientadora do culto pregava. Outras pessoas da comunidade externa também participaram do culto transversal cantando todas as músicas do espetáculo Deus é Fiel-Marca Registrada como todos os atores/performers do grupo Transeuntes. As ações do grupo Transeuntes no Solar da Baronesa estendeu o convite a todos e quem o aceitou se divertiu e teve a oportunidade de refletir sobre temas transversais a partir da prática teatral.


                                                               

                                                                      [I]reverência...