SENTIR-SERTIR-SER-TI
Deitar no chão e se entregar a ele, buscar contato com o chão. Foi assim que Mateus Way deu inicio aos exercícios ministrados por ele na quarta-feira 25 de abril.
Ir ao chão, Sentir-ser chão. Depois o caminhar. Tão importante caminhar.
Imprescindível.
Caminhamos e encontramos um objeto. Relacionar com este objeto. Sentir-ser este objeto. Descobrir sua materialidade, absorver, experimentar, experienciar e então, após termos relacionado com ele e portanto descoberto seu valor, ou ainda criado um valor para ele deveríamos vender, oferecer, provocar o outro a comprar, a querer, a desejar sentir-ser tal objeto.
Abandonando o contato físico direto com o objeto fomos convidados a tentar trazer o objeto para o corpo. Ser-sentir o objeto. E buscar relações com os outros objetos a partir de. "Beba-me", "Deixa te usar", "Vou proteger você", prostitutas e suas formas de se oferecer. Potentes frases de efeito e uso nada comum. Cotidiano traduzido em palavras de grande provocação e condenação.
Oferecer-se, dar um preço para uma noite e convencer em palavras o que temos de bom. E então ler, Ser-sentir como se oferecer, como tornar-se objeto de desejo e uso. Desejo ou uso.
MEU USO
uso
o
que sou
no uso do que o outro tem
tem, vem, me tem.
O chefe de costas, servos atrás. Todos querem pegar suas costas, tocar suas costas. O toque nas costas me torna chefe pelo desejo de sê-lo. Pelo desejo de tocar quem está no poder e então SER-PODER. Descofiados os chefes obrigam os servos a retornar ao ponto inicial assim que surpreendidos. Mil vezes retornando sou Sísifo que revolta e toca as costas, consegue ser chefe, líder, poder. Ser lugar desejado por não muito tempo.
Os exercícios me fizeram desejo. Desejo de ir mais a fundo. Vender mais. Vender tudo. Mais exercícios MATEUS que esses já me serviram muito.
BRANCA MORTE
Deitados no chão fomos conduzidos por uma leitura, por uma cidade, parque e trem fantasma.
No escuro tateamos, encontramos nossos medos e refletimos sobre eles. Encontrei-me com o que me amedronta. Pensei no por que de tais medos e descobri que a morte é o maior deles.
Sou capas de morrer de medo de morrer.
Seria uma morte elegante. Digna, talvez. Mas, elegante.
Nada de sangue e pedaços de corpo por onde se vem. Nada de deformações e afogamento. Nada de morrer assassinado ou em meio ao fogo. Morrer morrendo de uma morte viva. Morrer por não conceber a ideia de não poder fazê-lo. Morrer por não poder morrer.
MORRER: UM PODER
Ter que morrer...
e sem poder para poder morrer, morrer.
Moer e morrer, esmuecer e no fim
poder escolher como morrer
na falta de escolha de não poder não morrer
Melhor um poema imbecil que morrer.
No fim encontramos um caixão e dentro dele estaria mil coisas tão banais quanto uma menina ou restos de seu corpo. Mas foi comigo que me encontrei. Com minha morte.
Macabra condução narrativa até a morte. Só que a minha. Só que não. Ainda estamos deitados e de olhos abertos a luz não agrada.
São João del-Rei. MG. 25 de abril de 2013
Luís Firmato.