Bem Vindo!

TRANSEUNTES

Criado em abril de 2012, o grupo de pesquisa"Transeuntes: Estudos sobre performance e Teatro performativo" foi formado a partir da necessidade de artistas em ampliar os estudos sobre as intervenções performáticas nas ruas. Em parceria entre Professores e Alunos do Curso de Teatro (COTEA) da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), o projeto consiste, entre outros pontos, em estudos teóricos sobre determinados autores que abordam o teatro nas ruas e em experimentações práticas que visam inserir o espectador transeunte na construção dos processos criativos, a partir das temáticas referentes às abordagens atuais. A pesquisa tem como principal objetivo investigar as propostas de estreitamento entre a cena contemporânea e o espectador transeunte nas ruas de São João Del-Rei, visando analisar a inserção do público como participante das ações performáticas, na busca de:

(...) Utilizar o ambiente urbano de maneira diferente das prescrições implícitas no projeto de quem o determinou; enfim, de dar-lhe [espectador-cidadão] a possibilidade de não assimilar, mas de reagir ativamente ao ambiente. (ARGAN, 1998, p. 219)

Os membros atuais do grupo Transeuntes são:

Professores - Ines Linke e Marcelo Rocco.

Alunos - Débora Trierweiler; Diego Souza; Diogo Rezende; Fernanda Junqueira; Gabriela Ferreira; Guilherme Soares; Halina Cordeiro; Henrique Chagas; Isabela Francisconi; Kauê Rocha; Nathan Marçal; Paula Fonseca; Rick Ribeiro; Tatiane Talita.

sexta-feira, 26 de abril de 2013


SENTIR-SERTIR-SER-TI

Deitar no chão e se entregar a ele, buscar contato com o chão. Foi assim que Mateus Way deu inicio aos exercícios ministrados por ele na quarta-feira 25 de abril.
 Ir ao chão, Sentir-ser chão. Depois o caminhar. Tão importante caminhar.
Imprescindível.

 Caminhamos e encontramos um objeto. Relacionar com este objeto. Sentir-ser este objeto. Descobrir sua materialidade, absorver, experimentar, experienciar  e então, após termos relacionado com ele e portanto descoberto seu valor, ou ainda criado um valor para ele deveríamos vender, oferecer, provocar o outro a comprar, a querer, a desejar sentir-ser tal objeto. 

Abandonando o contato físico direto com o objeto fomos convidados a tentar trazer o objeto para o corpo. Ser-sentir o objeto. E buscar relações com os outros objetos a partir de. "Beba-me", "Deixa te usar", "Vou proteger você", prostitutas e suas formas de se oferecer. Potentes frases de efeito e uso nada comum. Cotidiano traduzido em palavras de grande provocação e condenação.
Oferecer-se, dar um preço para uma noite e convencer em palavras o que temos de bom. E então ler, Ser-sentir como se oferecer, como tornar-se objeto de desejo e uso. Desejo ou uso. 

MEU USO
        uso
           o
que   sou
no uso do que o outro tem
tem, vem, me tem.

O chefe de costas, servos atrás. Todos querem pegar suas costas, tocar suas costas. O toque nas costas me torna chefe pelo desejo de sê-lo. Pelo desejo de tocar quem está no poder  e então SER-PODER. Descofiados os chefes obrigam os servos a retornar ao ponto inicial assim que surpreendidos. Mil vezes retornando sou Sísifo que revolta e toca as costas, consegue ser chefe, líder, poder. Ser lugar desejado por não muito tempo.

Os exercícios me fizeram desejo. Desejo de ir mais a fundo. Vender mais. Vender tudo. Mais exercícios MATEUS que esses já me serviram muito.

BRANCA MORTE
Deitados no chão fomos conduzidos por uma leitura, por uma cidade, parque e trem fantasma.
No escuro tateamos, encontramos nossos medos e refletimos sobre eles. Encontrei-me com o que me amedronta. Pensei no por que de tais medos e descobri que a morte é o maior deles.
Sou capas de morrer de medo de morrer.
Seria uma morte elegante. Digna, talvez. Mas, elegante.
Nada de sangue e pedaços de corpo por onde se vem. Nada de deformações e afogamento. Nada de morrer assassinado ou em meio ao fogo. Morrer morrendo de uma morte viva. Morrer por não conceber a ideia de não poder fazê-lo. Morrer por não poder morrer.

                  MORRER: UM PODER

          Ter que morrer...
           e sem poder para poder morrer, morrer.
           Moer e morrer, esmuecer e no fim
           poder escolher como morrer
           na falta de escolha de não poder não morrer

Melhor um poema imbecil que morrer.

No fim encontramos um caixão e dentro dele estaria mil coisas tão banais quanto uma menina ou restos de seu corpo. Mas foi comigo que me encontrei. Com minha morte.
Macabra condução narrativa até a morte. Só que a minha. Só que não. Ainda estamos deitados e de olhos abertos a luz não agrada.

São João del-Rei. MG. 25 de abril de 2013

Luís Firmato.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Por Luis Firmato
ABUSO DE EXPERIÊNCIAS
        Fizemos dois exercícios provocativos para a idéia de encenação performática que faremos no grupo de estudos . Marcelo Rocco vedou nossos olhos e iniciou uma série de ações que ajudaram a refletir sobre uma pessoa abusada, violentada, obrigada a fazer coisas sem seu controle ou escolha. Derrubando coisas que provocavam barulhos enormes, jogando água, nos arrastando e nos levando por lugares com variações de velocidade pudemos ter uma série de indicações e sugestões dos estados de pessoas que passam por tais situações. Se essas experiências não se comparam aos horrores do estupro e abusos sexuais são indicadores perfeitos da precariedade e falta de ferramentas para se defender quando estamos em uma situação inferior. Seja em força física ou em uma hierarquia determinada por quem nem sabemos. Esses abusos não arriscados, porém inesperados me levou a refletir sobre pequenos abusos não declarados com tal. Piadas de mau gosto e pequenos abusos de poder que juntos dão forma e lugar a uma estrutura insignificante quando isolada, mas mantenedora de diversos preconceitos em uma visão macro. Muitas vezes pequenos deslizes são desconsiderados e acabam provocando enormes estragos.
                Estragos provocam também a mídia sensacionalista e seus apelativos métodos. No segundo exercício, enquanto Karla depunha sobre um crime, eu a interrompia com uma palma, iniciando uma propaganda de algum produto ou serviço provocados por alguma parte de sua fala. O riso veio fácil. Refletindo sobre o ocorrido me surpreendo sobre como isso é recorrente. Diariamente somos espectadores de notícias e formações banalizadas pelos meios de comunicação. É absurdo o modo como mesclam e conectam fontes distintas e intenções díspares para provocar o efeito desejado. São crimes bárbaros que servem para vender produtos e produtos de efeitos aparentemente milagrosos que adiam a noticia que anuncia tudo, menos a total falta de sentido em tais audiências.
              Nesse “abuso de experiências” podemos encontrar numerosas potencias que dialogam diretamente com a proposta da encenação e que contribuíram para que a reflexão seja privilégio de espectadores e performances.

                Luís Firmato.