Bem Vindo!

TRANSEUNTES

Criado em abril de 2012, o grupo de pesquisa"Transeuntes: Estudos sobre performance e Teatro performativo" foi formado a partir da necessidade de artistas em ampliar os estudos sobre as intervenções performáticas nas ruas. Em parceria entre Professores e Alunos do Curso de Teatro (COTEA) da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), o projeto consiste, entre outros pontos, em estudos teóricos sobre determinados autores que abordam o teatro nas ruas e em experimentações práticas que visam inserir o espectador transeunte na construção dos processos criativos, a partir das temáticas referentes às abordagens atuais. A pesquisa tem como principal objetivo investigar as propostas de estreitamento entre a cena contemporânea e o espectador transeunte nas ruas de São João Del-Rei, visando analisar a inserção do público como participante das ações performáticas, na busca de:

(...) Utilizar o ambiente urbano de maneira diferente das prescrições implícitas no projeto de quem o determinou; enfim, de dar-lhe [espectador-cidadão] a possibilidade de não assimilar, mas de reagir ativamente ao ambiente. (ARGAN, 1998, p. 219)

Os membros atuais do grupo Transeuntes são:

Professores - Ines Linke e Marcelo Rocco.

Alunos - Débora Trierweiler; Diego Souza; Diogo Rezende; Fernanda Junqueira; Gabriela Ferreira; Guilherme Soares; Halina Cordeiro; Henrique Chagas; Isabela Francisconi; Kauê Rocha; Nathan Marçal; Paula Fonseca; Rick Ribeiro; Tatiane Talita.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Exercícios 17.10.13

CORPOS EM EXERCÍCIO

A proposta de exercício de construção de cena de  Érika Camila e Taís Rosa baseada na cena de número 5 do pré-roteiro dramatúrgico escrito por Marcelo Rocco consistiu basicamente na utilização de três corpos de mulher que noticiavam acontecimentos trágicos. A primeira trazia o corpo coberto de jornais. Sua imagem remete ás experimentações realizadas pelo grupo de pesquisa no início do projeto nas margens do córrego do Lenheiro, no centro de São João del-Rei.
Figura1. Registro fotográfico. Experiment-ações, Transeuntes e Urbanidades , 2013,.
Fotografia de Luís Firmato

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Figura 2.. Registro fotográfico. Exercícios sobre pré-roteiro dramatúrgico. Transeuntes, 2013.
Fotografia de Igor dos Santos Oliveira.




Na ocasião Inês Karin Linke propôs se deitar sob a ponte e ser coberta com páginas de jornais sensacionalistas.. A ação fez parte de diferentes experimentos que pretendiam contribuir para o processo de construção da encenação performativa. Neste momento as notícias cobriam o corpo revelado apenas por alguns membros descobertos e por seu volume, na proposta da dupla as notícias saltavam do papel. O corpo morto tinha voz. Como em um instante de glória (?) teve sua voz devolvida e pode falar. Pode contar aos espectadores as condições que fora morta. Reconhecendo as limitações dos exercícios seria importante alertarmos para o fato do depoimento ser ou não em primeira pessoa. O corpo morto que fala, o faz de forma genérica, revelando diretamente o sofrimento de mulheres abusadas sexualmente e mortas? Ou é direto fornecendo os dados sobre a forma como esta mulher foi morta? A segunda mulher estava sentada em um banco, lendo seu jornal barato. A notícia de violência distoava do corpo construído. Seria este corpo em algum momento abusado. Era claro que ela  pouco se importava-identificava com a vítima. Seu distanciamento nos enoja e levanta a reflexão sobre nossa inação em frente a banalização e culto á violência. Ao consumo desenfreado da notícia como produto descartável. A mulher caída ao chão não lhe causa presença. A “morta” em sua imagem frágil e finda clama por reconhecimento da segunda. Esta lê o trágico, interessa-se pelo registro, mas pouco faz pelo corpo. Sua leitura poderá compactuar para o mantenimento  da violência? Seu aparente descaso, sua indiferença, poderá, como na personagem de A Cruz de Giz, de Bertold Brecht levá-la á insegurança? Quando sua condição se equipara com a da vítima imóvel estirada ao chão? A diferença das ações e condições das personagens surgem também através de sua disposição. Em um crescendo. Do plano baixo ao plano alto elas se revelam em ação. Da imobilidade, do sentar desinteressado chegamos ao deslocamento. A terceira mulher, subverte a lógica. Desloca-se pelo espaço. Suas ações criam um outro espaço. Da relação frontal somos inseridos por seu fio.  Somos lançados dentro de sua história. Incluídos nela, emaranhados nela. Cúmprices, ligados por um frágilfio de  barbante, somos abusados em nosso conforto de espectadores e forçados a sermos testemunhas do depoimento cruel. Narrando em tempo real seu abuso oferece-nos um paradoxo. Somos nós que nos imobilizamos. Parados atônitos: ouvimos. Somos entrelaçados por sua narrativa, seu depoimento. Descobrimos aos poucos seu destino. O abuso sofrido em outro espaço pede ao espectador imaginação. Suporte para que em cada um surja uma história diferente. Nada podemos fazer por ela. Nada podemos fazer a não ser refletir sobre os abusos que neste momento podem estar acontecendo. Contextualiza-se aqui a condição de centenas de mulheres que são, de forma física ou psicológica, no Brasil.
Conforme o mapa da violênica publicado pelo institudo Sangari em 2012 o número de mulheres assassinadas em 30 anos cresceu em 217,6%. Se o exercício proposto não dá voz a todos as ações, esta última mulher nos coloca próximos do horror que os dados da pesquisa apresentam.
O segundo exercício, proposto por Branca Marília e Luciana Oliveira, também trabalhou com a ideia de corpos em um só corpo. Dentro de um espaço determinado deveríamos buscar o corpo, comportamentos e ações de pessoas em uma festa. logo após éramos convidados a estruturarmos nossos corpos como jornalistas dando uma notícia sobre violência. Uma vez feitos complexificamos já que  deveríamos falar de notícias de estupros e violência física contra mulheres sem afetar o corpo em festa. Os envolvidos encontraram dificuldade em realizar o exercício. Algumas ideias e propostas foram experimentadas. Como a cena em que um casal fazia sexo e um deles dava notícias que, em um primeiro momento, nada tinham de relação com o ato apresentado. Consideramos que a ação precisa ser trabalhada e pode incorporar-se na encenação performativa já que é potente e trata  em sua realização da banalização da violência e do sexo.

Luís Firmato

Referência
disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_mulher.pdf visualizado em 18 d outubro de 2013 ás 16h30.

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