FRETAR
A CIDADE EM “FESTA”
A ação “A
FESTA” surgiu de uma tentativa de trabalhar o “guarda-chuva” consumo, presente
em maior ou menor medida, mas não de diferente importância, nas pesquisas
pessoais de todos os Transeuntes.
Falou-se de
re-significar o espaço, transformar a cidade de São João del-Rei em uma grande
mansão, lugar de uma festa onde muitos foram convidados. Via redes sociais ou
no momento mesmo da ação.
Inicialmente
quis cruzar minha pesquisa pessoal sobre gênero e sexualidade travestindo-me. Porém
as explicações nunca são tão obvias e tive dificuldades em criar um argumento
capaz de convencer-me que não haveria troca de sentido, ou melhor dizendo, que
não mudaria o foco da ação. Acredito, e aceito discordâncias, que a aceitação
dos homossexuais se dá em alguns momentos em função de seu poder de consumo. Um
grupo sem filhos, alimentado por imagens de homens perfeitos na mídia e na
moda, e muitas vezes bem informados serve de prato cheio para uma lógica
capitalista de consumo desenfreado. Basta ver o comércio paralelo as grandes
paradas gays no país e no mundo. Faz-se bom lembrar que não estou criticando
tais manifestações e sim refletindo sobre como são usadas para apoiar mercados
que, como por mágica, passaram a ver nos homossexuais ótimos clientes. Uma vez
(?) homossexual tenho necessidade de refletir sobre minha condição, sem
esquecer, no entanto que sou antes cidadão, um ser pensante. Certa vez minha
terapeuta indagou-me sobre o porquê me cobrava tanto em acertar. Respondi,
pretensiosamente, como se pudesse fazê-lo por todo os iguais na orientação
sexual, que nós homossexuais temos que fazer tudo perfeitamente para sermos
aceitos na sociedade. Ela me perguntou se eu queria acertar por que era uma pessoa
desejosa de que as coisas dessem certo ou só por era homossexual? Talvez você
leitor pense o que tem isso a ver com a ação citada no título, eu responderia:
muito. É que em minha proposta inicial queria tatear sobre até que ponto a
imagem de mulher que os travestis idealizam e efetivamente criam é forjada pela
mídia. Ou ancorado em um argumento não-preconceituoso, politicamente correto,
vou defender que travestis não existem os que são consumistas? Se forem vítimas
do(s) sistema(s) talvez devessem sabê-los. Não que minha indumentária e
atitudes os salvariam da areia movediça, mas eu quero entender para evitar
acusações preconceituosas. Fica a ideia amadurecendo. Momentos oportunos
existiram ou os criarei. Fui com as ideias, mas a roupa foi outra.
Vesti-me pensando em um emergente, novo
rico, que, por suas excentricidades falasse por ele mesmo. Fomos, mas a rua
recebe-nos com força. Iniciamos com escritos no chão. Tentamos re-significar os
espaços, a chuva deixou que ocorresse em alguns instantes: os acontecimentos
menos. É que um turbilhão de informações foram se achegando. No desespero
urgente de fazer alguma coisa surgiram idéias potentes e por isso
reaproveitáveis. Algumas nem tanto.
Vi muita
potência nas improvisações de Érika Camila, escolhida para ser dona da
mansão-cidade. Não me desculpo por ter provocado ações e movimentos que a
deixaram em apuros, já que se saiu muito bem. Agradou-me os escritos que tentamos
deixar em cada novo espaço. Usar a cidade subvertendo seus usos, ditos oficiais,
é sedutor.
Talvez tenham
sido negativos os momentos em que o grupo parecia em uma festa gay (gritos e
palmas não mascaravam a falta de ação?), o desconforto dos convidados que
souberam da ação “on line”, o que revelou que diferentes ideias de festa não se
fundiram sempre, e a perda do foco em criticar o consumismo.
Para o
primeiro problema sugiro que façamos exercícios e propostas que nos
instrumentalize para a rua. Improvisação é intelecto puro. Nada pode surgir do
que não existe. Isso por mais fantásticas e rápidas que sejam as soluções
surgidas em problemas da hora.
No segundo que
tenhamos um núcleo ativo. Aqueles que frequentam os encontros semanais precisam
de assiduidade para contatar com o que sugeri nas linhas acima. Assim acredito
que teríamos ferramentas para incluir os que estivessem inseguros, isso tudo se
for essa a proposta.
Criticar o
consumismo foi à principal barreira. Concordo com os que sugeriram que devemos
intensificar na criação das imagens e ações.
Comigo ficaram
guardadas imagens maravilhosas e a impressão de que só experimentando se pode
saber o sabor das coisas. Neste caso o sabor da rua é de vinho barato, água de
chuva, olhares raivosos, sorrisos fúteis e muitas sugestões.
Luís
Firmato.
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